do trumpolineiro e dos defecadores de prosa


Os indefectíveis defecadores de prosa em louvor do neoliberalismo, reverentíssimos apóstolos de Cristas e do senhor dos Passos, lá bem no fundo, no segredo dos seus deuses menores, com o pudor que lhes inspira a hipocrisia, exultaram com a eleição do Trumpolineiro. Nem às paredes o confessam, não vá os ventos mudaram e os salaristas não voltarem em dia de nevoeiro. Publicamente, publicam virtudes, admoestações, preocupações, condenações. Vituperam - para consumo do leitor, ouvinte, telespectador papalvo -, o caceteiro, o regateiro, o arruaceiro, o trapaceiro com estaminé de ouro e mármore montado na Quinta Avenida. E acusam a esquerda pela sua vitória. O declínio da esquerda dá força à extrema-direita, clamam e proclamam, como se a direita - de que Hillary faz parte - não tivesse sido derrotada em prol da sua ala mais radical.

Há enfraquecimento das forças de esquerda? Também. Se considerarmos esquerda aquela social-democracia bem comportadinha, muito responsavelzinha, assaz tolerantezinha, fofinha até mais não poder ser, a das abstenções violentas de Seguro, das cobardias de Hollande, das fraquezas e cedências dos que, batendo a mão no peito e proclamando a sua titubeante vocação esquerdina, deram trunfos e triunfos às forças neoliberais, auxiliando-as no assalto aos povos para compensar as perdas daquela gente sem nome instalada nas torres de luxo de Manhattan ou Canary Wharf, coadjuvando-as servilmente na imposição da austeridade, na promoção da injustiça social, das desigualdades, da destruição da Saúde e Educação públicas, das privatizações a pataco, das malfeitorias a que, em Portugal, assistimos em directo, ao vivo mas nunca a cores.

Felizmente, porque a conjuntura a isso o obrigou ou porque se recusou a atraiçoar militantes e eleitores, Costa fez o PS arrepiar caminho, negociou à esquerda, governa com boas ou más medidas, a cada um a sua sentença, mas sempre, sempre à revelia de Merkel e dos seus sequazes bruxelenses. Não é coisa pouca. Que sirva de exemplo aos outros partidos ditos socialistas por essa Europa fora. O Pasok já se acabou. O PSOE está-se a acabar.  Só uma política patriótica e de esquerda, parafraseando os seus arqui-inimigos agora e em boa hora aliados, os poderá salvar.

Vêm aí tempos terríveis. Agradeçamos ao Trumpolineiro mas, sobretudo, a quem nele votou e o saúda com entusiasmo e às palminhas. A História julgar-vos-á.

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