mário soares tem medo do 12 de março
Pudera! Mesmo que se não tenha aproveitado do poder para se servir, foi pelo menos o maitre d'hôtel que mandou pôr a mesa onde muitos lambões se vieram banquetear. E, embora não aprecie por aí além o estilo apocalíptico de Vasco Pulido Valente, este artigo do Público vale a pena ser lido.
Vasco Pulido Valente, Público
Caro dr. Mário Soares, li com espanto o fim do seu artigo de terça-feira. O sr. não ignora que sempre o considerei o fundador do regime e tenho por si o respeito e a gratidão que essa ideia implica. O sr. fez com grande coragem e tenacidade exactamente o que disse que ia fazer: descolonizou, democratizou e conseguiu que Portugal "entrasse" na "Europa". Mas nós somos de outra era. Para quem nasceu depois de 1980 e cresceu durante Cavaco e o PS, Salazar, Caetano e o PREC têm hoje a mesma realidade, e a mesma importância, de Sancho I. O que interessa agora à gente de 20, 30, 40 anos não é a perversidade da Ditadura, é saber se, como no seu tempo, o regime cumpriu as suas promessas. E a resposta, por muito que lhe custe a si, e a mim, é que não cumpriu.
Em 2011, o país chegou a uma situação de pré-falência, a desigualdade aumentou, os salários diminuíram, os serviços sociais pioraram, o desemprego não pára e até a universidade, coitada, não melhorou muito. Depois de ouvir mentiras sem desculpa sobre a "modernização" de Portugal e o maravilhoso poder da escola, a "geração Deolinda" (desculpe o nome) deu por si sem futuro: sem um futuro imediato ou mesmo longínquo. É compreensível que se revolte e que, na sua revolta, inclua o regime de ponta a ponta. O sr. parece indignado que ela não abra uma excepção para nada, nem para ninguém. Só lhe pergunto como distinguiria ela entre a guerra civil do PSD (que, de resto, já recomeçou) e a desgraça a que nos trouxe o longo e miserável Governo do PS?
O sr. não poupa os promotores da manifestação, marcada pelo Facebook para 12 de Março. Para si, essa gente é "perigosa, anti-democrática e niilista". "Quer ela alguma coisa mais do que o caos?", pergunta o sr. Ou, como a seguir sugere com desconfiança, "espera" talvez que "alguém" (evidentemente um "chefe", e um chefe autoritário) lhe venha por milagre indicar "o caminho" (da ditadura, claro). Gostaria de o avisar de que essa gente "perigosa, antidemocrática e niilista" é um puro produto da sua imaginação. E de que no dia 12 de Março ela irá tranquilamente à Avenida da Liberdade, não para pedir a ressurreição de um tiranete qualquer, mas para protestar contra a maneira como o PS e o PSD governaram Portugal em plena impunidade durante quase quarenta anos. Com os resultados que se vêem.
Seu incondicional admirador, V.P.V
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