ai, como era diferente o amor em portugal (reedição)
Ai que saudades dos anos 60! Naquele tempo é que havia decência. Havia cuidado com o que se fazia na mata, por detrás da moita. Havia atenção ao que se desapertava e desabotoava, alcinha de sutiã ou braguilha. Era preciso ter tento com o que se metia ou tirava em vão de escada escusa. Para dentro de um carro, por mais camuflado que estivesse na noite escura, tudo se vislumbrava e deslumbrava mesmo que não fosse esse o intento do incauto voyeur. Mão naquilo ou aquilo na mão dava lugar a onerosa multa. Se fosse aquilo naquilo, aquilo atrás daquilo ou a língua naquilo então a pena redobrava e implicava detença e chilindró, visita de médico ou poiso duradoiro dependia da ofensa, se agravada ou ligeira, mas ligeira nunca seria sendo atentado ao pudor o molesto crime. Fosse língua na língua, boca com boca, mão na mão, aquilo na boca ou a boca naquilo, língua naquilo ou aquilo na língua, a boca na coisa ou a coisa na boca, a mão naquilo ou aquilo na mão, aquilo na coisa ou a coisa naquilo, aquilo com aquilo ou coisa com coisa, perdão, está mais que visto, não havia. Não havia comiseração. Preferível era encolhermos a língua. Cerrarmos os lábios. Aferrolharmos a boca. Retraírmos a mão. Resguardarmos a coisa. Recolhermos aquilo em virginal recato. Na ignorância dos inocentes e na inocência dos ignorantes.
Comentários