os escarros também se escrevem
António Ribeiro Ferreira continua a ser o escriba de serviço ao neofascismo em Portugal. Este cagalhão, que encontrei nessa cloaca chamada "i", merece uma leitura. Mas muna-se de Alka Seltzer primeiro:
A conversa é muito repetitiva, enfadonha, inútil. As ladainhas do costume, vindas dos suspeitos do costume, já convencem pouca gente e os seus autores arriscam-se a ficar a falar sozinhos. Não há portaria, decreto, medida, lei, orçamento que não mereça imensos comentários com o fado do impossível a ser cantado de forma desafinada e sem chama por gente que não sabe dizer mais nada e nada tem para propor em alternativa. O que muitos políticos, sindicalistas, alguns patrões, comentadores e tudólogos de uma maneira geral não querem entender é que o Portugal de amanhã, de 2012, 2013 e por aí adiante, não terá nenhuma semelhança com o Portugal de 2010 e mesmo de 2011. Nada será como antes nesta terra de Santa Maria. Os ordenados do sector privado e do sector público serão muito mais baixos, os subsídios de Natal e de férias já acabaram no Estado e vão acabar no privado, as indemnizações dos despedidos nunca mais serão superiores a um salário por ano de trabalho. Tudo isso acabou. Não são medidas temporárias, são definitivas. É preciso que isto fique claro de uma vez para não haver ilusões e fantasias. O tempo de trabalho semanal, os feriados pagos e outras regalias inscritas nas leis nacionais já fazem parte do passado. Agora vai ser preciso trabalhar mais, para quem tem o privilégio de ter emprego, e receber menos. Podem fazer o que quiserem, greves, manifestações, debates e juras de guerra eterna que nada disso irá alterar a realidade, dura, que espera todos os portugueses já amanhã. As borlas nas auto-estradas já foram enterradas e nem à bomba os automobilistas voltarão a circular em estradas sem pagar portagem. A saúde vai ficar mais cara para todos e os serviços prestados pelo Estado vão necessariamente ser reduzidos. É pena, é verdade. Mas não há alternativa. Como não há alternativa aos cortes nas reformas e à redução substancial da escola pública e dos seus profissionais. Já está a ser assim e vai ser ainda pior. E não vale a pena fazer o discurso do impossível quando o eixo franco-alemão impõe a Portugal e aos países da zona euro um défice estrutural de 0,5 % do PIB. Vai ser não só possível como necessário para o país sobreviver e ter algum futuro que valha a pena viver. O Estado não pode continuar a gastar acima do que recebe dos impostos e muito menos continuar a endividar-se a um ritmo alucinante e suicida. E para isso vai ser possível também, com Constituição ou sem Constituição, despedir funcionários públicos. Muitos. O objectivo, possível, é que o Estado, de preferência em breve, passe a gastar menos do que recebe das famílias e das empresas e consiga o mais cedo possível reduzir os impostos. Sim, vai ser possível o Estado português ter excedentes nas suas contas, reduzir a dívida com o exterior e baixar os impostos directos e indirectos que asfixiam qualquer hipótese de crescimento económico e criação de emprego. Tudo isto vai acontecer, a bem ou mal, de dentro ou de fora, em Portugal. O impossível é um fado que já deu o que tinha a dar e que só os saudosistas de um país que está a morrer e não volta mais ainda cantam com os olhos marejados de lágrimas.
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