"ai mana, estou tão fartinha da diligência" ou a síndrome das manas catatuas



Cá vai Cavaco, que me está a dar a filoxera. 

Cavaco já sabia o que havia de fazer antes das eleições fosse qual fosse o resultado. Mesmo assim, precisou do dia 5 inteirinho para reflectir. E deu nisto: não indigitou o chefe do seu partido para formar governo mas para providenciar diligências. Despromoveu Coelho de primeiro a carroceiro, fez dele reles timoneiro da mala-posta pejada de recados e de presentes envenenados para quem ele não gosta, de Costa à contracosta que o homem é azedo como sopa velha. Quem se mete com Cavaco leva, diria outro Coelho que não vem à colação. E se bem conhecemos Cavaco, mesquinho e vingativo, bem pode o PS arengar que talvez, por enquanto talvez aceite ser governo com o apoio da esquerda à sua esquerda. Cavaco escavacará Costa. Declarará o estado de sítio, decretará o recolher obrigatório, determinará o retiro aos desobedientes, a reclusão aos insubmissos. Pedirá ajuda à amada Merkel, ao abençoado Junker, à querida Lagarde, ao diabo que o carregue se preciso for, tudo o que for preciso para suster este Período Revolucionário em Curso com o concurso de toda a esquerda e a deriva de Costa que, em vez de lamber Silva e Coelho, carniça e erva fresca, fel sem mel, visita a sede do PCP e deixa-se fotografar ao lado de um cartaz que diz A Força do Povo. Cruzes credo, canhotos! Pois fiquem a saber, se não o sabem já, que força é o que Cavaco mais tem, sobretudo anímica, ao contrário de Relvas a quem esta faltou quando mais era precisa, que andou uns tempos a vitaminas e injecções de dinheiro no cu e na conta bancária e, agora, está de volta tal como o Marco António marco da lusopátria e, qualquer dia, o Dias Loureiro, esse paradigma do empresariado arguto que faz deste país o grande país que é, um paraíso para proxenetas e rameiras da política, dos negócios, da vidinha, que cada um faz por ela o que pode e é por isso que se juntam ali à Lapa, e no Caldas por arrasto, para fornicar Portugal e os portugueses com a tal força anímica que anima Cavaco e as cavacadelas, cavem cadelas de Passos agora ocupado a diligenciar diligências muito bem diligenciadas sob os auspícios do patrono da Pátria que vai fazer de Portugal um orgulhoso Cavacal onde procriaremos que nem Coelhos dos piores que há em nós, os egoístas encartados, os capitalistas desalmados, os pulhas desencabrestados, os merdas feitos deputados, directores disto, presidentes daquilo, oportunistas, chupistas do pirilau do Estado - menos o Rodrigues dos Santos que esse é muito homem! - e das tetas da Nação, badamecos, bardamerdas, palavrões com pernas, escarros com barriga, alforrecas, amibas, ratazanas, baratas tontas e tanta outra bicheza a que urge fazer limpeza, exterminar, expurgar, expulsar do governo e das instituições onde sendo já velhos são boys, bois de cobrição, vacas de estimação, alimárias sem perdão. Isto ainda pode dar a volta e, volta não volta, é preciso fazer as limpezas da Primavera. Nem que seja no tempo das castanhas, da água-pé, da jeropiga, dos cravos que não viraram cravas e não dos parvos que viraram escravos, dos homens e mulheres que querem ser isso, só isso, homens e mulheres e não vermes de encher, e não lesmas, e não avantesmas. Rua a Passos largos que Portas são para serventia da casa e a casa precisa de ser limpa e arrumada, chega de badalhoquice, arredem as diligências, comprem sabão-macaco, creolina, lixívia, palha d'aço e água, água a rodos que chegue para todos antes que seja privatizada.

Comentários

ARNALDO MESQUITA disse…
Caro Manuel:

Para além de estar muito bem escrito, o seu texto revela uma argúcia invulgar e, sobretudo, um grito de alma de quem já não suporta esta escumalha que todos os dias nos entra pela casa adentro, querendo salvar-nos, ansiando ser os agentes da nossa redenção, quando são eles os principais culpados do estado de miséria moral e de empobrecimento material a que chegámos. Parabéns pela sua lucidez e nunca deixe de os zurzir sem dó nem piedade !

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