os reis escandalosos: joão II, o esfaqueador


Reinado: 1481-1495

Eram irrefutáveis as provas que permitiram acusar de alta traição o duque de Bragança, D. Fernando, homem mais rico do País e casado com uma irmã da mulher do Rei, a Rainha D. Leonor. O escrivão da sua fazenda de Vila Viçosa e um mensageiro entregaram a D. João II correspondência comprometedora com os Reis de Castela. 



Foi o próprio Monarca quem prendeu o duque, no fim de uma conversa a sós em Évora. Seria julgado ao longo de 22 dias, numa sala revestida de tapetes, à volta de uma mesa onde estavam 21 juízes, fidalgos e cavaleiros, com o Rei sentado no topo e o próprio réu a seu lado nalgumas sessões. A votação, iniciada com um discurso de D. João II, arrastou-se por dois dias e terminou com a condenação à morte. No dia seguinte, 20 de Junho de 1483, D. Fernando foi degolado na praça de Évora, à frente do povo – cobriram-lhe a cabeça com uma toalha e um algoz cortou-a, segundo os relatos dos cronistas da época, Garcia de Resende e Rui de Pina, citados por Luís Adão da Fonseca e Manuela Mendonça, autores de duas biografias sobre D. João II. 

Apesar desta prova de força, a nobreza continuou a agitar-se contra o Monarca e o duque de Viseu, cunhado do Rei (irmão da Rainha D. Leonor), concebeu um plano para apunhalar D. João II na praia, em Setúbal. Só que um dos envolvidos avisou o Monarca, que decidiu viajar por terra, inviabilizando assim o plano dos conspiradores. Mandou então chamar o duque de Viseu e ele próprio o apunhalou. Foram perseguidas mais 80 pessoas, por suspeita de envolvimento nesta conspiração. Depois de eliminar o cunhado, o Rei mandou dois enviados seus explicar à mãe da vítima o que tinha acontecido. Chamou ainda um irmão do falecido, D. Manuel, e contou-lhe que tinha esfaqueado o duque porque ele “o quisera matar”. Mas prometeu que, se o seu filho, príncipe D. Afonso, falecesse, e não tivesse mais nenhum filho legítimo, ficaria D. Manuel como herdeiro de todos os seus reinos e senhorios. 

D. João II arrependeu-se desta promessa sete anos mais tarde, quando o príncipe herdeiro, D. Afonso, caiu de um cavalo e morreu. Tentou por todas as vias que o Papa aceitasse como sucessor o seu filho bastardo, D. Jorge, mas sem sucesso, graças a várias diligências da mulher junto dos Reis de Castela e das famílias nobres. Assim vingou D. Leonor a morte do irmão e do cunhado.

Manuela Mendonça, biógrafa de D. João II, coordenadora da História dos Reis de Portugal e presidente da Academia de História, considera que este foi o escândalo real que maior repercussão social teve na época.
In Revista Sábado

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