mais depressa se apanha um mentiroso
Sócrates e Mário Lino prepararam privatização das águas em 2000
Por José António Cerejo
PÚBLICO
A privatização parcial do grupo Águas de Portugal (AdP), que o PSD prevê no seu programa eleitoral e que José Sócrates qualificou no sábado como uma "aventura irresponsável", foi discutida e preparada pelo actual primeiro-ministro quando tutelava a pasta do Ambiente, em 2000 e 2001.
De então para cá, as posições do PS e do PSD sobre a privatização do sector das águas têm sofrido sucessivos avanços e recuos, mas a empresa continua a ser 100 por cento pública.
A administração da AdP, à época presidida por Mário Lino, programou no ano 2000, sempre em articulação com José Sócrates, a entrada de privados no capital da holding que controla o sector. A estratégia definida assentava, numa primeira fase, na venda de uma fatia do capital da AdP, até 30 por cento, à EDP (Electricidade de Portugal), que posteriormente a venderia ao gigante inglês do sector, a companhia privada Thames Water. Numa segunda fase previa-se a abertura, em bolsa, do capital da AdP a investidores privados.
De acordo com um memorando confidencial a que o PÚBLICO teve acesso - redigido em Fevereiro de 2000 por Mário Lino, depois de José Sócrates ter corrigido pelo seu próprio punho uma versão preliminar -, "a participação da EDP na AdP não deveria ultrapassar, nesta fase, os 30 por cento, devendo ainda acordar-se que, numa futura privatização parcial da Adp, a percentagem de capital a colocar em bolsa devia ser idêntica relativamente aos 70 por cento públicos e aos 30 por cento detidos pela EDP". O documento notava que as estimativas feitas atribuíam à AdP - que actualmente controla mais de quarenta empresas - um valor da ordem dos dois mil milhões de euros.
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