palha ou sopa?


Por Isabel G

Se analisarmos, com profundidade e isenção, a aparente e estrepitosa barafunda económico-financeira a que nos habituaram a chamar “crise”, iremos por certo dar-nos conta das insidiosas maquinações que, nos bastidores, a fazem carburar, obviamente ao serviço e no soberano interesse dos seus criadores. 

Se não tomarmos cuidado, se não abrirmos bem os olhos – os da face e os da mente –, se não agirmos de moto próprio fazendo a destrinça sensata entre o que é essencial e o que é forjado, contrariamente às certezas de algumas mentes mentecaptas, a chamada crise não terminará, com toda a certeza, nem dentro de um ano nem nas próximas décadas. O que se manterá sim, incólume e com poder acrescido, será a monstruosa e ignóbil minoria regente e, por conseguinte, manter-se-ão também as crescentes dificuldades da maior parte da população mundial. 

Dizem que não há dinheiro, mas, no entanto, injectam-nos diariamente quantidades industriais de publicidade que, mais ou menos sub-repticiamente, incita ao consumismo. Não vemos, porém, nesse subtil incitamento, quaisquer referências a bens essenciais, pois não? E porquê? Porque é o supérfluo que alimenta a ganância dessa minoria asquerosa que rege o planeta. É essa minoria que dita as nossas pseudonecessidades! Todo o burro come palha, a questão é saber-lha dar! E é precisamente isto o que a maligna minoria no poder tem feito, faz e continuará a fazer. A menos que cada um faça a sua parte, claro está, e se recuse a comê-la. 

Enquanto muitas pessoas procuram já ajuda para as necessidades básicas da vida – comida, roupa e tecto – aquela repugnante minoria maquiavelicamente incute nas mentes fracas e sugestionáveis das massas um patamar de posses sem as quais, afirma, a vida não terá qualquer significado e será triste e miserável. Faz-lhes então acreditar que um determinado leque de bens é essencial à sobrevivência e à felicidade. E as massas acreditam. 

E tal como a rã, na água que gradualmente se vai aquecendo, não foge a uma morte certa devido à lenta adaptação a que é submetida, também as massas com algum poder aquisitivo não sentem a influência progressiva, e portanto a necessidade de saltar para fora desse lucrativo e macabro esquema, e também elas morrem – com os neurónios cozidos – para um discernimento sensato das intenções daquela maléfica minoria. Num ímpeto natural de imitação, de comparação e de competição, o indivíduo assim padronizado, consome sofregamente, e sem prévia reflexão, o que lhe é posto à frente dos olhos, com o objectivo de ser feliz, e de, sobretudo, ser igual ou melhor do que o seu parceiro do lado. Convém, evidentemente, à abominável minoria que se mantenha um elevado grau de ignorância. Corrobora essa conveniência a crescente involução dos processos educativos. 

E a um nível bem mais lamentável, o indivíduo pobre, aquele que realmente tem de lutar pela sobrevivência – e que constitui a grande maioria da população do planeta – tem a mente já per si programada, direccionada, única e exclusivamente, para a preservação da própria vida. Uma mente com preocupações a este nível não tem espaço para outras cogitações. Uma mente assim não questiona, não raciocina, não discerne e portanto, não riposta, não se opõe, não luta (eis a razão primordial pela qual não convém acabar com a fome no mundo!). E assim não perturba as bárbaras manobras de formatação levadas a cabo pela odiosa minoria. 

Eu não como palha. Gosto de me sentir livre. Por isso bastam-me uma sopa e uma mente desperta.

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