sejam homens! sejam mulheres! e se não souberem se defender para sobreviver, então feneçam.


Por: Paolo Barnard
Fonte: http://www.paolobarnard.info/intervento_mostra_go.php?id=267
Tradução: Agência Imediata

A descoberta é daquelas terrificantes e chegou há poucos instantes. Mas o desespero de quem escreve é que não sei mais a quem apelar. Esse golpe de estado financeiro na Europa está vomitando horrores sobre horrores enquanto procura-se escavar seu interior. O meu trabalho é descobrir e tornar público aquilo de descubro, mas para quem? Quem tem a determinação de agir? Não vocês, não os políticos, não os sindicatos, não a Igreja. Então, quem? Agora, a descoberta.

Os gregos são um caso perdido, não podemos fazer mais nada. Temos que abandoná-los e deixá-los perecer, como se fôssemos os poucos que conseguiram subir no último barco que sobrou, devendo nos resignar a abandonar os outros náufragos aos tubarões que já os estão destroçando. Eu sei, é horrível afastar-se enquanto eles estão gritando insuportavelmente. Não temos escolha. Os criminosos da União Europeia, ler os finançanazistas alemães e os finançasVichy franceses, assinaram a condenação à morte dos gregos no summit europeu de 26 de outubro, onde, sem que a imprensa e as televisões soubessem, a seguinte cláusula foi imposta à força para Atenas:

A jurisdição legal sobre os títulos de estado gregos ainda em circulação (ou seja, ainda não repagados) passa da soberania grega para a soberania inglesa.

Traduzo: a Grécia não é mais dona da própria dívida, que a partir de agora é gerida pela Coroa britânica, sob leis britânicas.

Consequências: Primeiro, a Grécia pode ser arrastada em tribunal pelos seus credores, sem poder exercer nem um fiapo de defesa soberana, com as próprias leis. O Parlamento e a justiça gregos valem, agora, menos que nada. Segundo, a Grécia, dessa maneira, não poderá mais renegociar a própria dívida, para salvar a nação. Não poderá fazê-lo nem em Euros, nem em Dracmas (ou seja, propor aos credores de se contentarem com reembolsos inferiores em Euros ou reembolsos em Dracmas). Com efeito, ela não é mais proprietária de sua dívida, e seria massacrada pelos credores que, para fazê-lo, usariam as leis de um outro País (notoriamente e descaradamente pró-business). Mas isso significa, sobretudo, que ela NÃO PODE MAIS ABANDONAR A EUROZONA, porque a condição essencial do default soberano é, depois, poder dizer ao mundo todo: “Renegocio a MINHA dívida sob as MINHAS condições e com a MINHA moeda”.Fecharam-na a chave, jogaram a chave fora e aí ela deve morrer. Atenção: falamos de sofrimentos reais, gente real, hoje, e destinos truncados. Crimes contra a humanidade.

O que faz gritar de raiva é que, entre outras coisas, esta condenação à morte lhe foi imposta em troca de um pacote de ajuda que é justamente a partir de onde se torturará a economia lentamente, até à morte, porque são as famosas medidas de austeridade que hoje despejaram sobre nós também (a Itália). Os gregos estão perdidos.

Mas sobra só uma remotíssima esperança: que o sadismo franco-alemão, depois de ter levado ao matadouro milhões de famílias gregas, irlandesas, portuguesas e italianas, comece a devorar a si mesmo, fazendo entrar em colapso também o barco onde dominam França e Alemanha, que talvez já estão começando a perceber.

E sobramos nós. Isso é, vocês, porque eu faço a minha parte. Trabalho de graça pra essas lutas, arrisco o vilipêndio do Chefe de Estado dia sim dia não, compro as brigas que acabam me tirando a casa, arrisco os cassetetes quando grito ao Prodi“delinquente” em público, arrisco um cartucho dentro de um envelope na caixa de cartas; claro, porque eles não estão brincando, e depois perdi renda, fama, e aquilo que mais gostava de fazer na vida, reportagens em volta ao mundo. Mas vocês. Vocês naquele barco, ainda inteiros, adultos vacinados, que na frente de seus filhos em uma Itália kossovizada ficam aí inermes, diplomados, ocupados, maquinados, iPadatados, bons para dar uns tapas em suas crianças, mas covardes frente ao Poder e só capazes de me escrever “Professor Barnard, mas o que podemos fazer?” O que vocês podem fazer? Sejam homens! Sejam mulheres! E se não souberem se defender para sobreviver, então feneçam. Tenham vergonha. Carne para tubarão.

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