dez milhões de cobaias


Desiludam-se os que pensam que enquanto Vítor Gaspar for ministro das Finanças este governo mudará de política económica, suceda o que suceder no plano europeu. O programa de Vítor Gaspar, a que Passos Coelho aderiu já depois de ter ganho as eleições, nada tem que ver com o acordo assinado com a troika ou com a crise financeira que a Europa enfrenta. Tudo o que o governo está a fazer era um projecto de Gaspar que a crise financeira e mais algumas mentiras ajudou a implementar.

Destruir o Estado Social, promover uma reengenharia social forçada, empobrecer os portugueses, promover uma redistribuição brutal do rendimento e apostar tudo num modelo salazarista de mão-de-obra barata e desqualificada são objectivos desta política que, por mais liberal que Passos Coelho seja, nunca imaginou ou ousou defender. É uma política que nada tem que ver com o acordo com a troika ou sequer com o programa eleitoral apresentado por Passos Coelho.

Corresponde a uma concepção ideológica e a um modelo de economia e de sociedade defendido por um político inexperiente e extremista que aproveitou uma situação de crise internacional para assustar um país e um povo para que aceitem a sua experiência brutal. Não admira que, de forma cobarde, o ministro das Finanças tenha reforçado a sua segurança pessoal e aumentado o orçamento para as polícias.

O que se estranha é que o Partido Socialista não questione o governo e o seu líder passe a vida a defender a política de Vítor Gaspar mas sob a forma de meia dose, o próprio líder parlamentar chegou ao ponto de desvalorizar todo o governo exceptuando o Gaspar, dizendo que o cargo de ministro das Finanças está muito bem entregue. Acabam por ser os cavaquistas os únicos a fazer oposição às políticas de Vítor Gaspar, ainda que seja evidente que Cavaco Silva tem medo de Passos Coelho.

Passos Coelho já foi mais troikista do que a troika, depois foi mais merkelista do que Merkel e um dia destes ainda vai acabar de ser mais gasparista do que o Gaspar, quando todo o mundo questiona as austeridade como solução, quando são as próprias agências de rating a considerar que estas políticas justificam a desqualificação da dívida soberana europeia, o Gaspar e o Passos Coelho continuam alegremente a defender mais e mais austeridade, mesmo quando já é evidente que as suas políticas conduzirão ao aumento da dívida.

Mas isso não são coisas que preocupem o Gaspar, ele tem mais homens armados a protegê-lo do que o primeiro-ministro, os seus rendimentos estão protegidos das suas políticas e quanto maior for a crise financeira do país mais condições terá para levar por diante todas as suas ideias e ainda falta muita coisa como, por exemplo, acabar com o ensino gratuito, privatizar recursos naturais como a água ou promover um despedimento colectivo no Estado.

Os portugueses são hoje pouco mais do que dez milhões de cobaias a sofrer com as experiências de um economista desconhecido e modesto mas ambicioso a quem Passos Coelho autorizou a destruição da economia portuguesa.

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