no portugal dos pequeninos

De propósito, como faço de quando em vez por uma questão de higiene da mente, e porque a sanidade da dita sofre, todos os dias, fortes abalos, andei este fim de semana arredado da web. Mas quero hoje, três dias depois, voltar à vaca fria, ou seja, a Pedro Passos Coelho e às suas declarações sobre a felicidade, sobre a luz que se acende, radiosa, ao fundo do túnel de quem é despedido. Disse ele que ser despedido é uma oportunidade para mudar de vida. Numa palavra, é uma benção.

Depois do "piegas", do "emigrem" e de tantos dislates de que já perdi a conta, Coelho mostra mais uma vez a sua total insensibilidade perante o sofrimento daqueles que diz governar. É, e aqui repito a expressão feliz de Daniel Oliveira, hoje no Expresso online, um mero rapazola que chega aos 47 anos sem saber nada da vida, que teve tudo de mão beijada, que fez carreira profissional, curta, à sombra da política e chega a primeiro-ministro por obra e graça da mentira e da infinita ingenuidade, para não lhe chamar outra coisa, dos que votam continuadamente contra os seus interesses e, diria mais, contra a moral e os bons costumes, não no sentido salazarista ou beato do termo mas no sentido de transparência, verdade, solidariedade, humanismo.

Passos desconhece a realidade, a vida, as dificuldades da vida. E não percebe nada de economia, menos do que eu que nada sei de tal coisa. Imagine-se Portugal, que dizem à beira da bancarrota, com mais um milhão de empreendedores, ex-desempregados e felizes donos de mini-micro-microscópicas empresas de uma pessoa só. 

Parece que já os estou a ver. Sem fazer nada, porque nada se pode fazer sem dinheiro a não ser, quanto muito, alugar os seus préstimos, a título precário e por tuta-e-meia, a empresas a quem, glosando o slogan do Pingo Doce, "sabe bem pagar tão pouco".

E, além da falta de lógica e de sentido das realidades, Passos Coelho fala-nos como se estivesse a dar-nos um raspanete, um puxão de orelhas, num tom de mestre-escola prepotente a quem só falta uma menina-de-cinco-olhos a assomar na mãozinha bem tratada. No seu entender, os portugueses são uma cambada de medrosos, merdosos, pouco empreendedores e, claro, sempre madraços.

Sim, é um rapazola a quem deram um novo brinquedo que se entretém a desmanchar para ver como é por dentro. Um brinquedo que se chama Portugal.

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