a gula capitalista


Por Fred Goldstein

A crise da economia capitalista renovou o seu percurso em plano inclinado quando o governo dos EUA anunciou que nenhuns novos empregos foram criados no mês de Agosto. Esta notícia desastrosa para os 30 milhões de trabalhadores desempregados e sub-empregados nos EUA surge perante o pano de fundo de um ameaçador arrefecimento da economia mundial.

Além do crescimento zero no número de empregos de Agosto, tanto os números da criação de empregos de Junho como os de Julho foram revistos em baixa num total de 58 mil. O número de zero empregos criados faz parte de uma tendência descendente firme.

Se bem que isto seja má notícia para os desempregados, aqueles que continuam a trabalhar também sofreram um golpe no mês de Agosto. Quanto maior o desemprego, maior a pressão sobre aqueles trabalhadores que ainda têm emprego. Esta pressão verifica-se nas estatísticas mais recentes.

As horas semanais trabalhadas caíram de 34,3 para 34,2, enquanto o salário/hora declinou numa média de 3 centavos. Estes números parecem pequenos mas eles somam-se a um declínio médio em salários semanais de quase 5 por cento numa base anual.

Para além disso, houve um aumento de 430 mil trabalhadores em “tempo parcial involuntário” — trabalhadores que necessitam um emprego em tempo integral mas têm de trabalhar em tempo parcial, tanto por terem sido colocados em horários parciais como porque era o que o patronato oferecia nas novas contratações.

O patronato aprecia o desemprego em massa devido à competição que cria entre trabalhadores, tornando mais fácil cortar salários, forçar aumento dos ritmos de trabalho, cortar benefícios e portanto arrancar cada vez mais lucros do suor dos trabalhadores. E, muito importante, quanto mais alto for o nível de desemprego, maior a ameaça aos sindicatos, pois tanto empresas como governos têm como alvo os contratos colectivos, sabendo que as greves são difíceis de levar a cabo durante períodos de alto desemprego.

Os efeitos racistas do desemprego tornaram-se ainda mais dramáticos em Agosto quando a taxa de desemprego para afro-americanos atingiu oficialmente os 16,7 por cento enquanto para os latinos foi de 11,3 por cento. Quando se olha para o número de trabalhadores que caíram fora da força de trabalho e não são contados nas estatísticas do desemprego, a percentagens de trabalhadores oprimidos sem trabalho são muito maiores.

Dois anos após a recuperação sem empregos, uma nova crise está em fermentação
Faz agora mais de dois anos sobre a chamada “recuperação”. O sistema de lucro capitalista, o chamado “mercado livre”, deixou dezenas de milhões sem emprego a tempo inteiro. A taxa de pobreza está em ascensão; um sexto da população sofre de fome, incluindo um quarto das crianças; milhões estão a enfrentar arrestos [hipotecários] e despejo das suas casas.

Agora, a acumular a esta recuperação sem empregos está a ameaça de uma nova onda de despedimentos. O crescimento da economia estado-unidense arrefeceu para 1 por cento no primeiro semestre deste ano. Por todo o mundo o capitalismo está de facto a desacelerar, seja na Europa, incluindo a Alemanha, França e Inglaterra, seja na Ásia, incluindo o Japão, Coreia do Sul, Índia e China, ou na América Latina, incluindo a sua maior economia, o Brasil.

Crescimento económico e trabalhadores sob o capitalismo
A questão do crescimento económico é crucial para a condição da classe trabalhadora. Sob o capitalismo os trabalhadores têm apenas duas condições em relação a empregos. Um trabalhador ou está a ser explorado por um patrão capitalista ou por alguma instituição governamental e portanto tem um emprego, ou um trabalhador está desempregado. Não há nada de intermédio.

O crescimento da produção capitalista significa que mais trabalhadores são necessários para serem explorados e os serviços precisam expandir-se. Portanto trabalhadores têm empregos, mesmo se cada vez mais destes empregos são de baixo salário, tempo parcial e/ou temporário.

A contracção do crescimento capitalista significa que trabalhadores não são necessários ao patronato e são despedidos. As receitas do governo declinam mas os bancos continuam a exigir o seu juro e o principal destes governos e os gastos militares continuam aos milhões de milhões — assim trabalhadores para o governo são despedidos.

A mais recente e mais perigosa ameaça para trabalhadores para o governo vem do U.S. Postal Service, o qual está a ameaçar despedir 120 mil trabalhadores, encerrar mais de 3000 agências de correio e livrar-se de mais outros 100 mil trabalhadores pelo atrito.

Sobreprodução e desemprego
Por que está a desacelerar o crescimento do capitalismo estado-unidense? O patronato está sentado em cima de US$2 milhões de milhões de dinheiro vivo. Por que não está a contratar e, ao invés disso, está a despedir? Não é por causa da incerteza, como afirmam seus apologistas. Não é por causa de regras governamentais, tão pouco.

É por causa da contradição fundamental do próprio capitalismo — a sobreprodução. A produção capitalista cresce cada vez mais rápido quando os patrões aplicam mais tecnologia, aceleram os ritmos de trabalho, externalizam e deslocalizam produção em busca de lucro. Cada vez mais trabalhadores, não só nos Estados Unidos como no mundo todo, produzem cada vez mais em cada vez menos tempo por salários cada vez mais baixos.

O pagamento que os trabalhadores levam para casa não só não aumenta, como está a diminuir enquanto a produção de mercadorias que devem ser vendidas com lucro se expande a um ritmo galopante. O capacidade de consumo do povo ou se eleva a ritmo de caracol ou na realidade se reduz.

Quanto mais tecnologia o patronato utiliza, menos e menos trabalhadores ele precisa. Hoje há 131 milhões de trabalhadores nas folhas de pagamento, o que é menos do que o número de trabalhadores nas folhas de pagamento no ano 2000. A economia dos EUA está hoje no mesmo nível de produção que estava em 2007, antes do estouro da bolha habitacional e da crise económica que atingiu o mundo.

Isso significa que os patrões precisam pelo menos 10 a 11 milhões de trabalhadores hoje do que precisavam há quatro anos. E isto sucede em consequência da eliminação de empregos pela tecnologia capitalista e da globalização do sistema de exploração com baixos salários.

Exigência de um maciço programa governamental para o emprego
Está previsto que o presidente Obama faça um discurso sobre “empregos” dentro de poucos dias. Este discurso não apresentará um programa que possa inverter o desastre do desemprego no país. O único meio de começar a tratar o desemprego em massa, o qual se tornará pior se houver um novo período de baixa, é lançar um maciço programa de empregos promovido pelo governo.

Tem ser à escala do Works Progress Administration (WPA) durante a Grande Depressão. Sete milhões de trabalhadores receberam empregos e construíram tudo, desde barragens e pontes a parques, escolas e rodovias; eles criaram arte, escreveram peças de teatro, plantaram árvores e fizeram trabalho socialmente útil.

Naquela época, tal como hoje, os patrões não contratavam porque numa depressão não podiam ampliar os seus lucros vendendo o que era produzido. O povo estava sem dinheiro e não podia comprar. Mas, sob a pressão de manifestações em massa de desempregados, greves gerais e ocupações de fábricas, o governo federal foi forçado a tornar-se o empregador principal. Palácios do governo e municipalidades tornaram-se a antecâmara do emprego. Milhões que queriam trabalhar obtiveram trabalho.

Quando uma nova crise ameaça, a única possibilidade de minimizar uma nova onda de despedimentos e reverter os que já aconteceram é lançar uma luta de massas por empregos ou rendimento e serviços a todos os níveis de governo — federal, estadual e local. Os republicanos estão abertamente contra a resolução da crise, enquanto o Partido Democrático também está ligado à Wall Street e nada avançou para o ataque à crise.

Ambos os partidos e governos, a todos os níveis, estão a afirmar que não têm dinheiro. Mas o chamado debate do défice é um debate falso. Trabalhadores, comunidades, juventude e estudantes vêm em primeiro lugar.

O direito dos trabalhadores a um emprego, alimentação, habitação, educação é um direito fundamental, superior aos direitos de milionários e bilionários, superior ao direito de banqueiros viverem à custa de fundos públicos, superior ao direito do complexo militar-industrial a prosperar com os lucros de guerra enquanto multiplicam guerras de conquista e ocupação.

Uma luta de massas de uma classe trabalhadora mobilizada por toda a parte nas ruas e lugares de trabalho pode começar a sacudir o dinheiro solto nos sacos de dinheiro da classe dominante capitalista. Esta é a única forma de fazer esta crise recuar.

A longo prazo, um programa de empregos sob o capitalismo, mesmo sendo governamental, não pode ser mais do que um remendo temporário. O WPA não ultrapassou a depressão; o desemprego em massa prevaleceu até a II Guerra Mundial.

A única solução permanente para a crise de empregos é livrarmo-nos juntos do sistema do lucro e colocar a economia a trabalhar para as necessidades humanas e não para a ganância humana. A distribuição da riqueza criada pela classe trabalhadora deve ter lugar com base na necessidade social e económica. Isso chama-se socialismo e funciona melhor onde o nível de produtividade é alto — o que é exactamente onde o capitalismo fracassa.

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