a vilania continua


Vemos, ouvimos e lemos. Nos jornais, na rádio, na televisão, não cessam de nos massacrar esta manhã com as novas maldades governamentais que vão chegar com a queda das folhas e o OE, o Orçamento de Estado do nosso descontentamento, desalento, tormento. Mais cortes, mais aumentos, menos apoios para o número crescente de desempregados e, pasme-se!, aumentos de ordenado para as polícias, os únicos neste país a quem a sorte não é madrasta, para além dos corruptos, dos políticos e dos grandes gestores. E não é por acaso: é preciso acalmar a classe para que ela faça o seu trabalhinho como deve ser, as ruas vão encher-se, a indignação cresce a olhos vistos, e eles lá estarão, vigilantes, operantes, atiçados, como na Grécia, em Espanha, nos Estados Unidos, para desancar e prender os revoltosos. Se fosse no tempo da outra senhora, "aqui d'El-Rei!", mas em democracia, se é que há alguém que ainda ache que isto é uma democracia, derrear em manifestantes pacíficos, em demonstrações autorizadas, é um acto banal, tão natural que o que admira é que ande por aí gente, uns desalmados, perigosos comunistas pela certa, a condená-los.

Acha que não tem razões para sair à rua no sábado? Que tem a vidinha organizada, sem dívidas, um emprego seguro, um rendimento estável? Olhe à sua volta. Isto não é como na taluda, não acontece só aos outros. Milhares pensavam como o meu amigo, ou a minha amiga, e veja o que lhes aconteceu: foram para o olho da rua, já apertaram o cinto e, a imprensa não o diz mas é fácil adivinhar, muitos apertarão o pescoço pelo futuro que lhes mataram, pelos filhos que não conseguem sustentar, pela casa que não conseguem pagar, pela reforma que não vão ter. Pense nisso. E saia à rua. É a sua vida que está em jogo. Não brinque com ela, não se aninhe no seu conforto, no seu egoísmo. Milhões precisam da sua solidariedade. Hoje por mim, amanhã por ti, diz o povo. E ele sabe do que fala.

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