de credo na boca e mão no peito


Uma das coisas que mais me irritam, palavra d'honra, são os contentinhos da situação e a sua pergunta sistemática, pensam eles que para nos deixar enrascados: vocês são do bota abaixo mas, quando se vos pedem alternativas, moita-carrasco, não as têm.

Alternativas, meus caros, há-as. E nem sequer seria preciso governar à esquerda. Oiçam alguns dos vossos compadres, compadres de direita, que vos têm dito repetidamente que assim não vamos lá, assim não pode ser.

Eu sou como o Cristo do poema de Pessoa, não sei nada de finanças, trato das minhas, das domésticas, e até  desconfio que mal e porcamente. Mas sei, isso sei, que há alternativas. A começar por alternativas morais: porque é imoral pedirem-se sacrifícios a muitos em prol de uns quantos. Cristo, que expulsou os vendilhões do templo, também o sabia. Melhor do que os que, hoje, de mão no peito e credo na boca, se dizem seus seguidores.

Incentivos ao livre mercado? Ao lucro? Pois seja. Mas precisamos de umas quantas modificações sérias ao capitalismo de casino que nos anda a corroer aos poucos e a matar muitos, que o digam os povos de África. Com menos especulação, menos ganhos virtuais, menos corrupção, menos clientelismo, melhor organização das empresas, mais responsabilidade social, mais respeito pelos trabalhadores e pelo ambiente, com tudo isto e o mais que eu não sei, vão ver se há ou não progresso, se há ou não riqueza. Equitativamente distribuída. 

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