ladrões de futuros


Por Samuel


O país e, sobretudo a sua rede de serviços públicos, parece a Rua dos Fanqueiros, na baixa de Lisboa, ao fim da tarde. Tudo fecha numa cadência inexorável... excepto aquilo que já está falido e definitivamente encerrado. A grande vantagem da Rua dos Fanqueiros é que (quase) tudo fecha, mas com a promessa de reabrir na manhã seguinte. Agora tocou a vez à população de Aver-o-Mar, uma freguesia do concelho da Póvoa de Varzim, com mais de 8.000 habitantes, 3.000 dos quais inscritos como utentes no seu Centro de Saúde. Nada que impressionasse os contabilistas do Ministério da Saúde que, contra tudo e todos, decidiram pelo seu encerramento. Mais uns milhares de cidadãos que ficam sem poder explicar para que serve realmente o esforço de uma vida, traduzido em anos e anos de trabalho, canseiras, impostos, contribuições e taxas. Tudo isto devidamente soterrado pelo circo mediático que pouco lhes ligou, circo mais interessado nos muitos directos para os estádios do Euro 2012, para as imagens dos treinos, dos autógrafos, dos descansos dos atletas... entre imagens dos turistas, dos adeptos, do Cristiano Ronaldo a filosofar, do Cristiano Ronaldo a dormir, do Cristiano Ronaldo a brincar, do Cristiano Ronaldo na “Cova da Irina”, do Cristiano Ronaldo a colocar o brinco, do Cristiano Ronaldo a mudar o risco ao penteado... enquanto “entram cavaleiros à garupa do seu heroísmo”, enquanto “soam brados e olés dos nabos que não pagam nada” e "entra muito dólar muita gente que dá lucro aos milhões"... (Sim! Faz cá muita falta o Ary!) Aver-o-Mar é bem uma parábola sobre o país. Um país de muita gente esforçada, historicamente explorada e enganada, a quem os sonhos vão sendo roubados... e que fica a ver o mar, a ver navios, a ver a vida a andar para trás.

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