nunca li marx nem lenine nem engels nem trotsky


É para a esquerda que me levam a razão e o coração. Mas nunca li Marx, ou Lenine, ou Engels, ou Trotsky. Feita esta confissão, que indignará alminhas à esquerda e à direita, pois quem não lê os "clássicos" não deve botar faladura, passemos ao porquê do aranzel: porque me custa, palavra de honra que custa, ver a esquerda, num tempo destes, dividida em clubes, quintinhas, facções, onde cada líder, e cada cidadão anónimo, alça a perninha para marcar território. Todos eles certamente doutos, não terão deixado de ler Marx, e Lenine, e Engels, e Trotsky, e assim e assado, tomam partido, fomentam ódios e rivalidades, provocam a desunião, o desamor, às vezes mais hostis entre uns e outros do que contra os seus verdadeiros inimigos.

Mas o momento é grave, dos mais graves que a vida me tem dado viver. Ainda ontem, andei pela net a bisbilhotar anúncios de emprego. Ofertas há. A 500 e 600 euros de salário em troca de qualificações altíssimas e em troca, muitas vezes, de país. Ou seja, aceite um emprego em Madrid ou Barcelona por 500 euros e ainda vai pagar para trabalhar porque, se outros "luxos" não tiver, vai ter que alugar casa ou uma parte dela e, se tiver mulher e filhos, viver longe deles durante longas temporadas porque o dinheiro não lhe vai chegar nem sequer para o metro, quanto mais para o avião.

Ou seja, a desregulação não se encontra só nos mercados financeiros. Acontece também no mercado laboral. Vale tudo, qualquer dia até tirar olhos. Com a benção do governo, da tonta Comunidade Europeia e do criminoso FMI.

E a esquerda, o que faz? Degladia-se. Movimentos, associações, plataformas,  partidos e o diabo a quatro agarram-se aos seus pergaminhos, às pequeninas leiras de que não querem abdicar em prol da terra toda, do povo todo. 

E a direita ri-se. Aproveita-se. Ousa cada vez mais e cada vez mais rapidamente. O fosso entre pobres e ricos cava-se cada vez mais fundo, para gáudio dos ricos e vergonha dos pobres cúmplices.

Se leio Marx? Lenine? Engels? Trotsky? Não. Vejo a vida. E sofro-a. Isso chega-me para tomar partido. E estar ao lado da esquerda. Toda. 

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