o triste fim do CDS

Por Pedro Marques Lopes

1. Quinta-feira de manhã, o líder do CDS informou-nos que o seu partido iria viabilizar o Orçamento de Estado. Têm razão os que dizem que há um problema de comunicação no Governo: levou três dias para que o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros comunicasse ao presidente do CDS o que tinha sido aprovado por ele no Conselho de Ministros.

Um ministro de Estado que também é presidente dum partido da coligação escrever uma carta em que anuncia que apoia o Governo é um episódio que fica para sempre no anedotário da política nacional. Se fosse a primeira vez em que Paulo Portas nos brindava com este tipo de cenas dava para um cidadão se indignar. Agora, já não. É só mais uma na opereta que está a encenar em que nos tenta convencer que está no Governo mas não está, em que apoia o Executivo mas não apoia, que concorda com as medidas mas não concorda. Para dar colorido a este triste espectáculo ainda temos Vítor Gaspar a fazer "enormes" piadas de mau gosto com ele e Miguel Relvas - que renasceu, provavelmente convencido de que está tudo esquecido - a dar indirectas sobre estados de alma. Patético.

2. O CDS, segundo o comunicado do seu presidente, não confundir com o ministro dos Negócios Estrangeiros, afirma que "todos têm um contributo a dar para assegurar a estabilidade política, o consenso nacional e a coesão social em Portugal". É por isto e por ser um partido responsável que votará favoravelmente o Orçamento para 2013. Ora, ou Vítor Gaspar, Passos Coelho e, agora, Paulo Portas são os únicos cidadãos a viver em Portugal, e nesse caso há consenso em redor do Orçamento, ou o líder do CDS deve estar a falar de outro país qualquer. E só pode ser piada de mau gosto dizer, num mesmo documento, que se aprova o Orçamento e que se está a contribuir para a estabilidade política e a coesão social. Falências, desemprego em massa, miséria, destruição da classe média, instituições em colapso não serão propriamente a imagem dum país estável e coeso socialmente. E só estes três senhores é que pensam que executar este Orçamento rima com responsabilidade. A esmagadora maioria dos portugueses, as principais figuras do PSD e do CDS, todos os ex-presidentes da República - o actual Presidente está escondido no Facebook, demasiado assustado com a dimensão do problema que vai ter de resolver -, os nossos credores e até as agências de rating, sempre ávidas de mais e mais austeridade, acham este Orçamento uma criminosa irresponsabilidade, um projecto inaplicável, um insulto aos portugueses, uma loucura dum cientista alucinado. Portas quer evitar uma crise política. Ainda não percebeu que está no meio duma. E não é só governativa, é uma que abana os próprios alicerces da democracia. E ele está a colaborar activamente no aprofundamento dessa crise.

3. O CDS, alinhando com este Orçamento, perde toda a credibilidade, sobretudo face ao seu eleitorado tradicional. O partido do contribuinte perde todo o seu capital político (fica para mais tarde falar do projecto de destruição em curso do mais importante partido português, o PSD).

O CDS depende da sua capacidade de condicionar políticas, de mostrar ao seu potencial eleitorado que consegue impor parte da sua agenda. Se não o consegue fazer, particularmente num momento como este, deixa de fazer sentido. Que dirá Paulo Portas aos seus eleitores quando daqui a uns meses o País estiver no caos e Portugal estiver a pedir o segundo resgate? Que foi forçado a assinar o Orçamento? Que se enganou? Ninguém acreditará nele, nem os seus mais fervorosos seguidores. O CDS não tem implantação autárquica, não está ligado a movimentos sociais como sindicatos ou organizações cívicas. Responde apenas pelos seus actos, não tem esses, digamos, mantos protectores. Portugal cedo ou tarde levantar-se-á, o CDS assinou a sua certidão de óbito. E da maneira mais infeliz de todas: colaborando num Orçamento que, implementado, destruirá o País por muitos anos.

4. Convinha acabar duma vez por todas com a conversa da falta de alternativa. Desde quando o suicídio colectivo é o único caminho possível? É bom que os deputados, aquando da votação do Orçamento, se lembrem disso. Em última análise serão eles os responsáveis por tudo o que se irá passar dentro de pouco tempo.

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