o grande rodeo americano
Sherif Arafa/Cartoon Movement |
O toiro embravecido entrou em acção. Abriram-se as grades por onde saiu dos seus curros de oiro e rococós, de lixo e luxo, prometendo, com os cornos, as patas, o focinho façanhudo, aos urros e aos bramidos, levar tudo à frente, a China e o Irão, o México e a Europa em desunião, os terroristas e os opositores, os que não lhe arrebanham a baba nem lhe aparam os coices de animal raivoso. Contra a imprensa e as empresas que não lhe veneram o fecundo génio, contra as liberdades de cada um, contra a gatunagem que tem explorado a benemérita América anos sem fim, contra e a favor das secretas, dos republicanos e democratas, de milionários e autocratas, contra e a favor seja do que for desde que lhe renda adeptos, aplausos, vassalagem. Entrou na arena para a grande faena, a festa brava, o bacanal dos bravos, as pegas de caras e de cernelha, as cornadas em brancos, pretos, índios, latinos, filhos de deuses menorizados, porque ele é o Messias, o Salvador da federação, o defensor de guerras e vendilhão de armas, o distribuidor de dinheiro a rodos pelos filhos da nação e só pelos filhos da nação desde que marcados à nascença com o ferrete do dólar, símbolo máximo e sagrado da maior de todas as pátrias, a mais rica, a mais poderosa, a mais talentosa, a mais esperta como esperto, talentoso, poderoso e rico é o ser que agora lhe dirige os destinos com a sobranceria dos predestinados, a inconsciência dos atoleimados. A América vai ser grande outra vez, maior ainda, enormíssima, pejada de muros, muralhas, aljubes, masmorras, cárceres que mandará erigir para seu proveito e eterna glória porque os interesses da Trump Organization se confundem com os do país e ele com Washington, ele é George ressuscitado e tem a cidade a seus pés, o mundo debaixo das patas.
Mas o povo americano não é, nunca foi todo ele ou estúpido ou ignorante ou ferozmente retrógrado. Do outro lado da barricada, eles lá estarão aos milhões. Marcharão, contestarão, resistirão a cada estocada até que a besta seja domada, levada de volta aos curros da Quinta Avenida.
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