impor a austeridade, organizar o saque

Por Daniel Oliveira

Na hora da desgraça dos países periféricos, a Alemanha tenciona ganhar mais um pouco. Entre reprimendas moralistas e puxões de orelhas arrogantes a senhora Merkel arranjou um tempo para meter uma cunha a Pedro Passos Coelho. Razão para temer o pior: as sugestões de Merkel junto do nosso deslumbrado primeiro-ministro costumam ser ouvidas como ordens.

Merkel quer que seja a E.ON a comprar a parte do Estado da EDP. Ou seja, Merkel impõe a austeridade que impõe privatizações na Grécia e em Portugal. E depois compra, a preço de saldo, as empresas que obrigou a vender. E como tem, na Europa, a faca e o queijo na mão, é de esperar que use todos os "argumentos" para fazer bons negócios. Basta recordar que os gregos, no exato momento em que eram "salvos" pela Europa porque não tinham dinheiro, foram obrigados a comprar uns submarinos aos alemães. Negócio que está, em Atenas como em Lisboa, rodeado de suspeitas de corrupção. Dirão: é natural que Angela Merkel defenda os interesses do seu País. Pena que quem governa Portugal se dedique ao mesmo: a defender os interesses de Angela Merkel.

A EDP internacionalizou-se sem qualquer vantagem para a balança comercial portuguesa. Fê-lo esmifrando os consumidores e as empresas nacionais. Ficamos, sabe-se lá porquê, orgulhosos. E mais pobres. Agora chegou a hora de oferecer esse investimento aos alemães. Que não hesitaram a forçar-nos a vender tudo o que sobra nas mãos do Estado. E comprar no momento certo.

Sabemos, através dos jornais britânicos (os nossos estão entretidos a vender a superioridade moral da austeridade) que o governo alemão se mexe nos bastidores para lucrar com a desgraça que nos impõe. Estaremos atentos quando Passos Coelho (ou Miguel Relvas) decidir a quem oferece a parte do Estado da EDP. Uma lição para os que teimam em chorar pelo contribuinte alemão que, nos delírios do populismo nacional, anda a pagar as nossas dívidas.

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