em que mundo vive passos coelho?


Por Baptista-Bastos
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Há qualquer coisa de grotesco e de safadeza de espírito nas declarações de Pedro Passos Coelho ao encerrar uma estranha conferência sobre a reforma do Estado. O optimismo, claramente demencial, com que o primeiro-ministro vê e comenta a situação do País contrasta com o movimento geral de protesto popular, com as críticas veementes de políticos, ex-Presidentes da República, ex-ministros, intelectuais, antigos resistentes e, de um modo geral, de quem pensa Portugal. A lista de protestatários aumenta, consoante as decisões atrabiliárias do Executivo. Há dias, Freitas do Amaral, numa entrevista a Judite Sousa, na TVI, desmoronou o edifício no qual se apoia Passos Coelho, chamando a atenção do Presidente da República para os perigos iminentes que pairam sobre a pátria, acaso a situação se deteriore. O dr. Cavaco, como se sabe, nada deve à coragem política e, com alegre desenvoltura, assobiou para o lado e promulgou a lei do esquartejamento territorial, que põe o País numa tensão de guerra.

Dirigido por economistas, cada vez mais notoriamente incompetentes, e ausente de acção política, Portugal anda numa deriva assustadora. Entre a inaptidão e a leviandade venha o diabo e escolha. Passos não percebe nada do País, por ausência de estudo e de análise, e, sobretudo, por carência de hábitos de trabalho. É um produto típico (como, aliás, António José Seguro) da produção em massa de ociosos com a marca das "jotas."

Passos passou, com extrema celeridade, pela organização juvenil do PCP. Percebeu logo que aquela instituição não dava futuro e muito menos empregos: só chatices e exclusões. Mudou de rumo, com rapidez inaudita, e foi imediatamente "patrocinado" por Ângelo Correia, homem de grandes avisos e densos entendimentos, que colocou o moço como "gestor" de uma das numerosas empresas de que era, e é, administrador. Acedeu, logo a seguir, o simpático rapaz, ao mundo empresarial, com numerosos benefícios e prebendas que lhe permitiram uma vida sossegada.

"É um jovem muito prendado e com ideias", acentuava Ângelo Correia, indicando sempre o seu pupilo para cargos directivos. Trabalhar, trabalhar, no sentido comum do termo, com rigorosas horas de entrada e de saída, isso, nunca Pedro Passos Coelho sofreu nos lombos. Carece, pois, de experiência de vida; ignora as dificuldades habituais àqueles a que se designa de trabalhadores; não sabe o que é viver com duzentos ou seiscentos euros de rendimento mensal; não está, nem nunca estará, com preocupações sobre os estudos e o futuro dos filhos; já acumulou o suficiente para garantir uma velhice serena.

É este homem, é esta gente tirada a papel químico, a que o prof. Medina Carreira, e não só ele, chama de "rapaziada". Ouve-se aquela tropa fandanga e não se acredita. Ele é o Moedas, o Moreira, o próprio Relvas, que está cadáver e não dá por isso, uma lista desenfreada de desenfreados medíocres, que surgem nas televisões e nos jornais que lhes dão guarida a dar bocas e a soltar bitaites, já marcados pelo sinal dos "negócios", pela aventura das aldrabices, pela impunidade de que estão revestidos.

Confesso estar cansado de ter de zurzir nesta trupe. Mas são os imperativos de ordem moral, e as canalhices sorridentes a que assisto, assistimos, os motivadores das minhas críticas. Nada de pessoal. Tudo compelido pelo tom geral da pulhice.

A nossa condição é tão grave, tão grave que a alternativa que se vislumbra não vai resolver coisa nenhuma. Como assinalou Freitas do Amaral, o actual PS, de António José Seguro, não é solução estável. É verdade que estamos a assistir ao levantar da feira; há um cheiro a eleições que começa a fazer movimentar a rapaziada do costume; mas, creio, nada será tão mau como o Governo que aí continua. Nos bastidores molda-se a ideia de um Governo de emergência nacional, que reuna gente qualificada e honesta, recrutada entre o que de melhor temos, que restitua ao viver português os padrões éticos e as virtudes políticas de que necessitamos com urgência. Até lá, insisto: não há luta sem sofrimento, nem batalha que não tenha fim.

Imagem: http://wehavekaosinthegarden.blogspot.pt/

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