se é para uniformizar, embora lá!

No outro dia, ouvi o Malaca Casteleiro dizer que o Acordo Ortográfico em que trabalhou incansavelmente ao longo de anos e anos teve por objectivo uniformizar a língua entre todos os países de expressão portuguesa.  Assim sendo, os brasileiros têm rabo ou somos nós que vamos passar a ter bunda? E as senhoras, as de cá passarão a usar calcinha ou são as de lá que usarão cuecas? De fato eles vestem fato ou nós, de facto, de futuro envergaremos terno? O governo de cá rouba-nos a grana ou é o de lá que lhes sonega o carcanhol? Passamos a ir à lanchonete ou são eles que vão ao café? Vamos beber um bagaço à tasca ou uma cachaça ao boteco? E o tipo que defende a baliza, é para eles guarda-redes ou, para nós, será goleiro? E como nos passaremos a mover? Nós de trem, ônibus, bonde, ou eles de comboio, autocarro, eléctrico? Esperamos pelo transporte na parada ou continuaremos a fazê-lo na paragem? Respeitamos a bicha na paragem ou antes a fila na parada? E aquele gajo porreiro, de pêra, que vai a sair da esquadra? Vamos ter que dizer que é um cara legal, de cavanhaque, a sair da delegacia? Se quisermos agrafar um relatório, recorreremos a um grampeador ou a um agrafador? E se o nosso fito é afiar um lápis, agarramos num apontador ou num apara-lápis? Fomos à privada e não usámos a descarga ou fomos à retrete e não puxámos o autoclismo? 

E por aqui, pela merda, me fico. Em castelo. À Casteleiro. Em bom português, do único, porque merda é merda, aqui ou no Brasil.


Comentários

João Serra disse…
Genial! muitos parabéns pelo texto cómico demonstrando capacidade de brincar com coisas sérias. E, já agora, pelas grafias diferentes do inglês nos EUA e no Reino Unido ou do francês na Bélgica e na França, podemos perguntar: o idiota que fez esta descarga mental é cá um cafajeste, ou passa a ser lá um fdp?

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