fmi: o predador
Para que não se fale de cor e se conheçam as implicações que terá a entrada do FMI em Portugal. Aqui não está a salvação, ao contrário do que querem fazer crer o Passos Coelho e outros roedores da economia de cada um.
Francisco Sarsfield Cabral: O recurso ao FMI/FEEF “pouco ou nada tem resolvido na Grécia e na Irlanda”
2011/03/02
Francisco Sarsfield Cabral (https://www.sitiodolivro.pt)
“A discussão sobre o endividamento externo quase se resume a saber se teremos de (ou, até, se devemos) recorrer ao FEEF – Fundo Europeu de Estabilização Financeira, que traria consigo o FMI – Fundo Monetário Internacional. Ora esse esquema, criado (com atraso) para responder à crise grega, pouco ou nada tem resolvido na Grécia e na Irlanda.
O dinheiro disponibilizado é caro (6% para a Irlanda, por exemplo).”
> Este é um aspecto importante que raras vezes é mencionado: estes empréstimos do FEEF têm – eles próprios – um juro que é mais do dobro daquilo que Portugal (por exemplo) pagava no mercado em 2008. O FEEF não é uma “ajuda” a custo zero ou sem lucro. O FEEF é um negócio e um bom negócio, devido aos juros que pratica.
“E a intervenção do FEEF nao baixou os juros da dívida grega e da irlandesa no mercado secundário – a primeira paga cerca de 11% e a segunda à volta de 9%.”
Além disso, ao impor uma brutal austeridade, a intervenção do FEEF/FMI arrisca um ciclo vicioso: o PIB cai, as receitas fiscais diminuem e a desejada redução do défice orçamental é posta. Mais austeridade poderá levar a um défice crescente, o inverso do pretendido.
Há quem lembre que o FMI já por duas vezes interveio em Portugal e com sucesso. Mas as circunstâncias em 1978 e 1983 eram muito diferentes das actuais. Nessa altura tínhamos moeda própria, o escudo, que de ambas as vezes sofreu uma substancial desvalorização determinada pelo FMI. Agora estamos no Euro.“
Porque emprestar mais, para que o receptor do empréstimo possa pagar juros de empréstimos anteriores nada contribui para resolver na essência o problema da Dívida Externa. Os que os países que recorrem ao FEEF precisam não é de mais empréstimos, é de condições para que possam exportar mais, produzir localmente muito mais e gastarem menos. Isto é feito por outras formas como a saída do Euro, a adopção por parte do Euro de uma gestão cambial mais agressiva que responda ao dumping cambial chinês, o fim do regime de “fronteiras escancaradas” às importações, estímulos à indústria comparáveis aos da agricultura com a PAC, combate às deslocalizações e às fusões e aquisições entre empresas, criação de uma política europeia de Emprego que puna severamente os empregadores que discriminam em função da idade, etc, etc. São medidas assim que faltam. Não o FEEF/FMI.
Francisco Sarsfield Cabral
Sol 4 fevereiro de 2011
Comentários