carta aberta ao citi group

Por Artur Portela

Caro Citi:

Estavas tu, Group, posto em sossego nos teus alcandorados gabinetes com vista para o mundo e eis que um secretário de Estado adjunto do governo de Portugal tem um atrevimento.
Leva, parece, um teu ex-director local à demissão de um cargo. O de secretário de Estado do Tesouro. Anuncia-o num briefing.
Pelo que passou a haver, no governo e na própria comunicação social, quem suponha que o secretário de Estado do Tesouro se demitiu, de facto.
Abandonando, ao bater da meia-noite, o Ministério das Finanças.
Esquecendo, talvez, junto do portão, um sapato.
De cristal.
Engana-se quem assim supõe.
Porque, caro banco, cara banca em geral, quase todos nós sabemos que, para ti, Citi, para vós, banca, para a cultura que sois, para a anatomia e engenharia de interesses que sois, para a ideologia que respirais, a questão nisto central não é a idoneidade política.
Não é nem o dr. Pedro Passos Coelho nem o eng.º José Sócrates.
Não é nem a sr.ª ministra das Finanças nem o ex-secretário de Estado dr. Costa Pina.
Não é essa fatal imaturidade, o secretário de Estado adjunto.
Não é essa banalidade, um governo.
Não é essa periferia, Portugal.
O essencial, nisto, é, sim, a banca.
É o nervo da finança.
É a inteligência do dinheiro.
Os governos passam, a banca fica.
Os políticos são amadores.
A banca é profissional.
Veja-se, por exemplo, o profissionalismo deste silêncio.
Portanto, quando o dr. Joaquim Pais Jorge não se lembra e, ao que parece, por não se lembrar, se demite, não se lembra e demite-se por se lembrar muitíssimo bem.
Daquilo a que se deve.
Do que ele, essencialmente, é.
Do que a banca é, essencialmente.
Do que a banca essencialmente foi.
Desde Veneza, desde Amesterdão.
A Nova Iorque.
A Tóquio.
A Pequim.
À Calçada da Estrela.
Por tudo isto, o dr. Joaquim Pais Jorge não sai.
O dr. Joaquim Pais Jorge regressa.
E triunfalmente.
Acenam-lhe os pares com folhas de palmeira.
Vai numa biga.
Erguem-lhe, acima da cabeça, uma coroa.
E avisam:
– Lembra-te de que somos ouro e em ouro nos tornaremos!
Portanto, o dr. Joaquim Pais Jorge não se demitiu do governo.
Demitiu, de si, o governo.
Deixando-o entregue ao seu azar inteiramente Távora.

Tanto que o dr. Joaquim Pais Jorge merecerá, um dia destes, num qualquer colóquio promovido pelo jornalista auto-entrevistador Gomes Ferreira, um abraço imperial do meu ilustre amigo dr. Ricardo Salgado.

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