coelho, relvas e a rota da vergonha
Deve ser isso. Deve ser uma cabala urdida contra Passos Coelho. O que é certo é que o Público anda, desde há dias, a denunciar as negociatas da Tecnoforma, empresa onde Passos Coelho foi consultor primeiro e, depois, administrador, e às quais o sempre omnipresente Miguel Relvas não foi estranho. Hoje, para além de 2/3 da capa, o jornal dedica seis-páginas-seis a mais um negócio da Tecnoforma. O enredo é intrincado, não vou descrever aqui os contornos completos do cambalacho mas, em traços largos, conta-se assim: Miguel Relvas, enquanto secretário de Estado da Administração local, cria um projecto de formação de técnicos camarários para aeródromos e pistas de helicópteros, dando-se como justificação a necessidade de preservar a segurança das aeronaves, passageiros e tripulantes tendo em conta, e passo a citar, os "atentados terroristas de 11 de Setembro nos Estados Unidos". Assim sendo, e colocando-se ao serviço do País e de tão meritórios desígnios, a Tecnofarma propõe, por largos milhares de euros, a criação dos tão necessários cursos, não fosse a Al-Qaeda reparar na existência de uns tantos aeródromos quase inactivos dispersos pelo Portugal profundo e mandar por lá umas bombas de mau cheiro. A partir daqui a história complica-se, por isso foram necessárias 6 páginas de jornal para explicar tudo, tintim por tintim. Uma coisa é certa: os cursos foram administrados, o carcanhol empochado e os formandos, esses, não viram as suas habilitações oficialmente reconhecidas uma vez que esses cursos nunca foram homologados pelas entidades competentes, apesar dos documentos da candidatura afirmarem o contrário.
Moral da história, embora a história não tenha moral nenhuma: o homem que nos acusa de termos vivido acima das nossas possibilidades, o homem que se apresentou impoluto ao eleitorado, o homem que jurou para quem o queria e não queria ouvir que ia limpar a máquina do Estado de todas as maroscas e contratos ruinosos (os dos socialistas, claro), é o homem da Tecnoforma. Em boa forma, serviu-se do Estado. E o pior é que, agora, nos quer fazer pagar a factura. Por inteiro. Com juros e dos de agiota.
Escusado será dizer que essas helipistas e aeródromos são, hoje, campos de erva daninha onde, pacificamente, pastam ovelhas e reina a desolação. É a rota da vergonha, diz o Público e diz muito bem.
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