o governo foi ao samouco meter água

Desde os tempos de Sócrates que pela net se apela, e muito bem, à extinção de fundações que nada mais servem do que para fugir aos impostos e, porque um bem nunca vem só, esbulhar mais uns dinheiros ao Estado. E este governo, o que segue os passos do rigor, da exigência, da transparência etc. e tal, fez-nos a vontade: há uns dias surgiu uma lista das fundações a extinguir e de outras a quem o Estado sonegaria fundos.

Mas, como alguém do PS disse, e desta vez acertadamente, a montanha pariu um rato: não chegou sequer a meia-dúzia o número de fundações a extinguir, entre elas a Fundação Paula Rego e a Fundação Casa de Mateus (essa mesma, a tal que atribui o prémio D. Dinis que, este ano, Maria Teresa Horta recusou receber das mãos do primeiro-ministro).

Dessa curta lista, também vinha o nome da Fundação Salinas do Samouco. Ignorante, vítima das primeiras impressões, achei bem. Que raio de fundação seria essa?

Dias depois, começa a vir a lume (e, mais uma vez, obrigado ao http://wehavekaosinthegarden.blogspot.pt/ pelo seu incessante trabalho de denúncia e de protesto) a verdadeira história: a Fundação foi instituída por imposição da Comissão Europeia para atenuar os efeitos da construção da ponte Vasco da Gama. Ou seja, o governo, sem mais aquelas, manda encerrar uma Fundação contra as exigências da Comissão Europeia (que, diga-se a verdade, estando agora ao serviço do capitalismo de casino e não do cidadão comum, se estará nas tintas para essas minudências, o que é preciso é que Portugal cumpra, pague a dívida e arruíne os portugueses).

Entretanto, soube-se também que a Fundação era parcialmente suportada, igualmente por imposição da Comissão Europeia, pela Lusoponte, a entidade presidida, recorde-se, pelo ex-ministro PSD Joaquim Ferreira do Amaral.

Bingo! Fez-se-me luz: ao extinguir a Fundação, livra-se a Lusoponte dessa despesa, poupando larguíssimos milhares de euros que alguém, se se quiser continuar a proteger as salinas do Samouco, terá que desembolsar. E, nesse caso, só estou a ver duas entidades possíveis: ou o Estado ou a Câmara Municipal. Ou seja: nós, sempre nós, que pagamos impostos cada vez mais elevados para que o descalabro, e a imoralidade, continuem.

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