doutor portas, ouça-se a si próprio e demita-se
Por Tiago Mesquita
Eu ainda sou do tempo em que Paulo Portas não queria "receber um tostão do Estado", não queria "tachos do Estado", "não queria ser eleito para coisa nenhuma". Político? Jamais! Seria como despenteá-lo durante uma soirée literária. Ministro? Credo! "Prefiro ser picado e ficar com o corpinho cheio de dengue". E tudo isto em apenas nove segundos, como se pode ver no vídeo.
Passou-lhe depressa a fobia à política e isso levou-nos ao tempo dos famosos governos de Durão (o da tanga) e de Santana (risos). Portas foi corresponsável pela coligação governativa entre o PSD e o CDS-PP, vindo a exercer funções como Ministro de Estado e da Defesa Nacional (2002-2004) e Ministro de Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar (2004-2005). Dois submarinos e um afundanço depois, tombo que o levou a demitir-se do partido, Portas saía da política. Mas por pouco tempo.
Sou também do tempo em que se preocupava com os reformados e pensionistas. Um espécie de bandeira que vai mudando de formato. Em tempos pertenceu aos agricultores. E preocupou-se tanto durante os miseráveis governos de Sócrates, governos que acusava (e com toda a razão) de "não terem palavra". "Muito provavelmente nem os pensionistas escaparão. Isto é um pequeno esforço? Não, é um bombardeamento fiscal que é negativo para a nossa economia", protestava Paulo Portas, em conferência de imprensa no Parlamento. O então "bombardeamento fiscal" é agora para Paulo uma espécie de sessão de cócegas nas virilhas dos cidadãos. Tão inofensivo que não merece uma palavra coerente sobre o assunto.
Querem melhor? Aqui vai: "Não me digam que o aumento de impostos é inevitável e que a despesa do Estado é incomprimível". Não é hilariante? Corria o ano de 2010 e foi a ultima vez que este Portas, versão acirrada, foi avistado politicamente. De lá para cá encontra-se desaparecido em combate, provavelmente baixou a escotilha e mergulhou o submarino democrata-cristão no Oceano "pacifico" social-democrata.
Não sei se Paulo Portas gosta de estar no poder. Não sei se é fetiche, se fascínio ao ponto de se transformar numa espécie de "anémona política" quando comparado com a sua atuação na oposição. Uma cegueira confortável. Agora uma coisa é certa, Portas não existe politicamente. E a única atitude possível, se for coerente, coisa que parece difícil se olharmos ao histórico, é demitir-se.
Fica o vídeo. Tenho saudades deste Paulo Portas.
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