sem rumo
Reuters |
Por Constança Cunha e Sá
Num raro momento de sanidade mental, a Comissão Europeia detectou subtilmente uma “fissura económica e social” em Portugal. Como é óbvio, trata-se de uma requintada força de expressão que fica bastante aquém do descalabro em que se afundou o país. Apesar disso, a Comissão exige que os portugueses arrepiem caminho e, em nome não se sabe bem de quê, se unam num renovado consenso. Como? A Comissão não explica; até porque, como anunciou esta semana o seu presidente, a Comissão não tem nada a ver com os planos de austeridade que arruínam a Europa a um ritmo cada vez mais vertiginoso. Limitou-se a fazer uma ou duas propostas suicidas que, nomeadamente os países sob resgate, tiveram a amabilidade de levar em conta. Como já se sabia por cá, o dr. Barroso é assim: nasceu para fugir às suas responsabilidades.
Vou, no entanto, por brevidade de espaço, esquecer as idiossincrasias do dr. Barroso, os erros colossais do FMI, as divergências entre os membros da troika e tudo o mais que confirma o desastre da receita aplicada aos países do Sul, que ameaça propagar-se a toda a Europa. Não por acaso, a União Europeia recebeu, ontem, o Prémio Nobel da Paz: a título póstumo, claro, e em memória de um tempo que infelizmente acabou. Não deixa de ser agradável ver como a Academia, entre os seus inúmeros prémios, não esquece os mortos-vivos que por aí andam.
Quanto ao consenso nacional, os iluminados da Comissão que me desculpem, mas penso que nos tempos que correm isso não passa de uma miragem que a realidade se encarrega de desmentir a cada dia que passa. É evidente que existe um consenso crescente contra o governo em geral e o primeiro-ministro em particular. Mas, para infelicidade da pátria, esse governo existe. Um governo que se transformou numa agremiação desavinda liderada por dois lunáticos. Se dúvidas houvesse, o Orçamento para 2013, essa manta de retalhos que o sr. Gaspar foi apresentando, aos tropeções, sem perceber minimamente as consequências que as suas extraordinárias medidas poderiam ter no país, dissipou qualquer ilusão sobre a matéria. Há quem veja nestes avanços e recuos uma estratégia para minorar o descalabro em que nos encontramos. Infelizmente, não vejo nesta turma de amadores qualquer visão estratégica, mesmo que comezinha. O que vejo, sim, é um total desnorte num governo que se arrasta penosamente pela paisagem sem rumo à vista. O resultado final, que pelo andar da carruagem ainda pode sofrer alterações no fim-de-semana, salda-se numa receita brutal que ameaça destruir a economia, sem conseguir cumprir a execução orçamental. Como se viu em 2012, as previsões de Vítor Gaspar já deram o que tinham a dar. E não deram grande coisa, para dizer o mínimo.
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