o futuro à porta fechada

Por Luís Rainha
http://www.ionline.pt

Enquanto escrevo estas linhas, uma suposta emanação colectiva da “sociedade civil” discute o futuro do nosso Estado. O evento deu logo que falar, não pelo que lá será falado, mas por não se poder falar do que ali se fala. Até deixam entrar jornalistas, mas nada de gravar os brilhantes pensamentos que por certo se multiplicam naquele salão como cogumelos alucinogénicos num pântano. Dada a “natureza do debate”, só poderão ser reproduzidas as ideias de génio com autorização expressa dos seus autores.

Não sei se esta original proibição já representa em si um modelo de organização do Estado, se pretende dar tempo às luminárias para registarem as patentes das suas inspirações antes que alguém as venda aos chineses, ou se é apenas uma prudente demonstração de vergonha antecipada, sabendo-se já o que muitos dos crânios arrebanhados para o convénio produziram antes. Mas calma: nós, comuns mortais, poderemos depois admirar o “clip de um minuto”, talvez com música de um rapper coreano, com que os competentes assessores resumirão a coisa mais logo. Isto também é o nosso triste estado. Lá longe o país vai-se derretendo sem ligar a nada disto: previsões económicas em queda, mais suspeitas em torno de contratos com o dedo de Paulo Portas, mais banqueiros investigados por lucros indevidos. Palpita-me que o nosso verdadeiro futuro está às portas do Palácio Foz: os feirantes que ali se manifestam sempre trabalham num campo destinado a entreter turistas. Aí sim, talvez ainda haja porvir.

Imagem recolhida em: http://www.rightposters.com

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