a crise afinal não nasceu da cobiça de banqueiros desvairados, mas sim do baixo-ventre dos pecadores
Por Luís Rainha
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Na semana passada, uma suposta bruxa de 20 anos foi queimada viva na Papua-Nova Guiné. Acusaram-na de ter causado, por ocultos e maléficos ofícios, a morte de uma criança.
Na semana passada, muito se falou da petição dada à luz por Bagão Félix e mais umas quantas forças mais ou menos vivas do nosso burgo, denunciando uma sombria conjura “destruidora dos pilares estruturantes da sociedade”. Nunca se explica o que serão esses “pilares” nem por que mecanismos estão eles a ser corroídos. Interessa saber é que a presente crise também se deve a factores demoníacos como “a reprodução artificial”, o aborto, o divórcio, o casamento gay e as mudanças de sexo.
Se algo corre mal nas profundezas da selva, aponta-se o dedo a uma feiticeira. Não é preciso provar coisa alguma; o estigma de um comportamento diferente do nosso basta para selar a sua condenação. Já a Igreja Católica durante três séculos assassinou dezenas de milhares de “bruxas”; não há nada de novo debaixo do Sol. Para Bagão e seus acólitos, é também certo que, de alguma forma misteriosa, gays, transexuais, divorciados e bebés-proveta são causas dos males que hoje nos afligem – a crise afinal não nasceu da cobiça de banqueiros desvairados, mas sim do baixo-ventre dos pecadores.
Esta tribo de fiéis da magia foi em procissão suplicar ao totem mumificado exposto no Palácio de Belém que esconjure as pragas que fornicam os tais pilares. Ainda não receitaram às multidões desesperadas a gasolina como remédio. Ainda.
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