nada a esperar


Por Baptista-Bastos
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Vivemos num lugar sombrio e esquecido de Deus. Porém, depois, vejo o ministro Mota Soares a rezar, compungido e trágico, e outros mais, como o Paulo Portas, e julgo ficar mais sossegado. Tudo na mesma. Segundo as estatísticas, tão do agrado desta gente, os mais ricos, em Portugal, ganham dez vezes mais do que os mais pobres; e a miséria atinge, sobretudo, os miúdos, numa percentagem alarmante. Ou Mota Soares, Portas e os restantes não rezam com conveniente convicção, ou, então, as coisas estão muito embrulhadas e Deus deixou de escutar (se nalguma ocasião o fez) estes contritas, porque percebeu a torpe falsidade dos seus votos. ("Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?...") Numa daquelas viagens de propaganda governamental, que estarrecem pela constância e aborrecem pela vacuidade, o primeiro-ministro foi ao Douro e disse outra das banalidades costumeiras. "Temos de abandonar os fatalismos", afirmou. A confusão racional é propositada; a ignorância semântica advém do desconhecimento. Entre o ‘fatalismo’ e a ‘fatalidade’ vai a distância do conhecimento elementar. A ‘fatalidade’ consiste em ele ter trepado a primeiro-ministro e cometer as tropelias que fez. O ‘fatalismo’ é coisa de superstição, própria de quem é incapaz de enfrentar os problemas e se esconde na metafísica. Ocasionalmente, dou por mim a pensar: como é que Passos Coelho tem conseguido viver, sem pesadelos nem pesares, dos pesadelos e dos pesares por que nos tem feito passar? E como é que o António Costa vai desembaraçar-se deste enredo, quando a Europa quase toda tende para o abaixamento ético, e se rende ao compromisso ideológico contrário aos princípios e valores que a fundaram no pós-guerra? A Itália é a desgraça que se vê, com Berlusconi a avançar, de novo, para o poder. A França ‘socialista’, do pobre Hollande de rastos ante a Alemanha de Merkel, é a imagem da capitulação mais abjecta que tem moldado este tempo. E a ascensão de movimentos e associações políticos, que desprezam e execram os partidos "da traição", como eles dizem, parece ser motor de novas esperanças. Em Espanha a situação começa a clarificar-se. E Portugal? Perante este cenário, que possibilidades restam a António Costa, se não a de romper com o sistema, o que me parece impossível, dadas as circunstâncias, ou, então, fazer o compromisso de mais do mesmo.

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