uma golfada de humor

Golfista beijando, agradecida, o Troféu Sócrates, instituído em homenagem ao primeiro-ministro cessante. Porque, mais uma vez, o homem mostra que os tem no sítio.

Ainda a questão do IVA reduzido para o golfe, mas agora pela pena primorosa de Ricardo Araújo Pereira. Se não pode ser considerado um politólogo, cá para mim é um dos nossos melhores comentadores políticos. O texto, como sempre, é da revista VISÃO.



O golfe como desígnio nacional
Em Portugal, o golfe é um desporto cada vez mais barato,
 e ser pobre é um desporto cada vez mais caro. A mensagem do Governo 
é clara: "Portugueses, não sejam pobres."

A intenção do Governo de reduzir para 6% a taxa do IVA sobre a prática 
do golfe é um orgulho para os golfistas e uma vergonha para os sindicalistas. 
Um grupo de pessoas com fraca organização coletiva, sem recurso a 
manifestações nem presença na mesa da concertação social, consegue ser 
mais eficaz na satisfação das suas justas aspirações do que a CGTP e a UGT juntas. 
O fenómeno volta também a indicar uma relação preocupante entre a contestação 
social bem sucedida e o uso de calças ridículas: depois de manifestantes dos anos 
70, com as suas calças à boca de sino, terem obtido conquistas sociais importantes, 
os golfistas conseguem agora o seu lugar na história da luta reivindicativa. Parece evidente 
que os trabalhadores de hoje só não gozam de melhores condições de 
vida porque Carvalho da Silva não tem a argúcia de comparecer nas manifestações 
de pijama. 


Além dos golfistas, o Governo também está de parabéns. É verdade que cedeu 
a um grupo social, mas soube fazê-lo enviando um sinal à sociedade: em Portugal,
o golfe é um desporto cada vez mais barato, e ser pobre é um desporto cada vez 
mais caro. A mensagem do Governo é clara: "Portugueses, não sejam pobres". É tão 
caro ser pobre em Portugal, com todas as medidas que o Governo tem tomado para 
taxar a pobreza, que só por teimosia um grupo cada vez mais alargado de pessoas 
se mantém pobre. Por preguiça ou burrice não levam a sério o esforço que o Governo 
tem feito, através de cargas fiscais e outras penalizações, para desencorajar quem 
insiste em ter má qualidade de vida e premiar quem tem boa qualidade de vida. 
Quem vive melhor paga menos impostos e tem mais benefícios, mas nem assim os 
portugueses percebem que devem passar a viver melhor. É incrível.


A argumentação do Governo é, além do mais, impossível de rebater: o golfe 
constitui uma importante alavanca do turismo. Há inúmeros cidadãos estrangeiros 
que procuram o nosso país para praticar o desporto. Mas, depois de terem gasto 
vários milhares de euros em tacos, viagens e hotéis, se os obrigam a pagar uma 
taxa de 23%, igual à dos refrigerantes e das latas de conserva, pegam no seu 
equipamento e vão jogar para países em que o IVA não lhes dê cabo do parco 
orçamento que têm para alimentação, saúde e jato privado. Quem persiste em 
viver com dificuldades, envergonhando-se a si mesmo e ao País, e continua a 
queixar-se dos impostos sobre bens importantes, deve pensar no modo como 
pode contribuir para o turismo em Portugal. Aglomerem-se nas imediações dos 
campos de golfe e convençam os jogadores a beber leite achocolatado e iogurtes. 
Em princípio, o IVA dos produtos que eles consomem baixa imediatamente de 
23 para 6 por cento. Não falha.

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