no tempo dos salafrários

Os juízes do Tribunal Constitucional hão-de ser de forte têmpera para conseguiram suportar todas as pressões a que têm sido sujeitos. Desde a Comissão Europeia às agências de rating e ao descabelado desgoverno da Pátria, apátridas sem lei nem grei, todos exercem chantagem sobre as criaturas de toga com o mais desavergonhado dos descaramentos. E, last but not least, há a chantagem sobre os portugueses, todos: ou nós ou o caos, ou nós ou a hecatombe. Passos Coelho tem sido useiro e vezeiro nessa prática, olhem que os mercados estão de olhos postos em nós, eles não confiam no PS, muito menos no PCP ou no BE, vejam se se portam bem, se não fazem ondas nem votam nessa maralha, quando não os nossos credores sobem-nos os juros e, depois, lá terei que vir eu, o salvador da Pátria, o iluminado da Nação, cortar-vos os salários e as pensões, subir-vos os impostos, acabar-vos com a mama da saúde e da educação tendencialmente gratuitas. Ou têm cuidado ou, já sabem, levam no costado.

Ontem, foi a vez do gestor cervejeiro feito ministro da Economia desta República em fim de vida. Disse a criatura que "o maior adversário da retoma económica é a crispação política". 

Por outras palavras, quedemo-nos em sossego, mansos como cordeiros, pelos nossos redis caseiros. Aceitemos o roubo, a humilhação, o vilipêndio constante como fatalidades do destino, castigos divinos. Porque, afinal de contas, fomos nós que andámos a gastar demais, acima das nossas parcas possibilidades.

Por mim falo que, desde há muitos anos, sou dono de meia-dúzia de PPPs, fujo com o pilim para o estrangeiro, vivo à grande e à alemã. Ainda ontem, perdi a cabeça: comprei uns enfeites manhosos numa quitanda chinesa. É que as crianças, ao menos essas, merecem um Natal feliz. Sem salafrários a assombrar-lhes a existência.

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