já a formiga tem catarro

Por Daniel Oliveira

Miguel Macedo foi a Vouzela. Tal como acontece e continuará a acontecer a todos os membros de um governo em estado comatoso foi vaiado quando lá chegou. Naturalmente, não gostou. E não deixou de nos oferecer a sua "pedagogia": "Portugal não pode continuar um país de muitas cigarras e poucas formigas". Para começar, talvez não fosse mau recordar ao senhor ministro que está a falar com adultos. Não são nem seus filhos nem seus netos. São quem lhe paga o salário para cumprir a sua função: governar. 

Para o ministro da Administração Interna há, em Portugal, um bando de preguiçosos (muitos) que gasta o que não temos. Ou seja, esses muitos (a maioria, supõe-se) são os responsáveis por esta crise, diz o Mitt Romney à portuguesa. E depois há uma minoria de gente trabalhadora, ordeira e caladinha que paga e segue quem manda, mesmo que quem mande seja visivelmente incompetente e destituído de qualquer capacidade política.

Não farei a injustiça de dizer que Miguel Macedo é uma cigarra. Até porque, como se vê pelos seus atributos de "pedagogo", falta brilho à sua música. Fará o que pode e o melhor que sabe. É provável que possa pouco e que não saiba grande coisa. Mas, como também sou cidadão deste País, quero ser pedagógico com o senhor ministro, seus colegas e a horda de boys que ciclicamente inunda, sem outro critério que não seja o cartão partidário, os ministérios. Seria bom, nestes tempos difíceis, abandonarem as fábulas infantis e, como sabe quem conhece esta, com um cheirinho bafiento de outros tempos. Seria bom deixarem de chamar "piegas" e "preguiçosos" a quem os elegeu. Gostem ou não gostem do povo que governam, é para ele que têm de trabalhar. E quando um governo e um povo não se dão bem, um deles está a mais. Não se podendo mudar de povo, costuma-se mudar de governo. Poderá então o senhor ministro seguir o apelo do seu primeiro e emigrar em busca de um povo que se deixe governar melhor.

Para dar lições de moral ao País é preciso ter alguma. E um governo que tem Miguel Relvas como um dos seus principais ministros, que há poucos dias nos ofereceu a triste novela da TSU e que tem para oferecer aos portugueses os catastróficos indicadores económicos que conhecemos, não pode abrir a boca para ensinar nada a ninguém. Se é difícil aturar o insulto de quem tenha competência, torna-se ainda mais insuportável quando os sermões vêm de quem, até agora, não conseguiu merecer o lugar que ocupa.

Foi Passos Coelho que marcou este estilo de sermão de professor primário. Um estilo que aposta no histórico complexo de inferioridade dos portugueses para, amesquinhando-o, o tornar mais manso. Pode ter passado despercebido ao ministro, mas nas últimas semanas, quando os portugueses perceberam o assalto que esta gente preparava, mudou muita coisa. E a paciência para este tipo de garotadas esgotou-se. Sim, o barulho insuportável das supostas "cigarras" vai continuar a ouvir-se. Porque, veja-se o descaramento,não gostam de ser tratadas como "formigas".

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