os patrões e gaspar agradecem à rainha santa



Devo ser um sacaninha, um grão-tinhoso de mente retorcida, mas ontem não consegui corresponder aos apelos dos gentis adolescentes que, à porta de um hipermercado, me tentaram meter na mão um saco do Banco Alimentar. Não consigo dissociar a iniciativa, com todos os méritos que possa ter, da figura de Isabel Jonet. Não consigo deixar de pensar que, se nesta altura de emergência estas acções são vitais, este não é o caminho, cabendo ao Estado o dever de erradicar a pobreza e não o de encorajar a caridade. E não consigo deixar de fazer cálculos: quanto é que as cadeias de distribuição lucraram este fim de semana? Quanto é que o Estado arrecadou em IVA sobre os produtos ofertados? Esses lucros e esses impostos não deveriam reverter também para os mais necessitados? Diz o "i" que, em 2011, o valor estimado de produtos recolhidos pelo Banco Alimentar foi superior a 42 milhões de euros. A uma taxa média de IVA de 10%, e perdoem-me se estiver a exagerar mas não sou economista, o Estado terá recebido 4 milhões de euros provenientes de uma obra de caridade. Milhões a juntar a muitos outros milhões extorquidos aos portugueses, empobrecendo-os e obrigando-os a recorrer a entidades como o Banco Alimentar, num infernal ciclo vicioso que engorda os cofres do Estado e de quem vive à sua custa. Que não somos nós, muito antes pelo contrário, antes somos vítimas da sua sanha confiscatória.

Para além dos galardões já conquistados por Jonet, e do estatuto internacional recentemente adquirido, o Estado português não deixará de a honrar com uma comenda no 10 de Junho. Para mais e não para menos. Nasceu uma nova Rainha Santa.

Fotografia © Leonardo Negrão/Global Imagens

Comentários

Simon FCK disse…
Nem mais, excelente!
Curto e grosso é isso mesmo e o mal desta merda toda é que não tem fim à vista...
Simon FCK disse…
Nem mais, excelente.
E o grande problema desta xulice toda é que não tem fim à vista...

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