a minha mercearia está de cofres cheios
Vou contar-vos, ai pois vou. Tenho uma mercearia, a Pérola de Portugal. Aqui há uns anos o negócio começou a dar para o torto, estava à beira da falência. Que fiz eu? Como sou esperto que nem um alho, isto se os alhos são espertos, resolvi pedir um empréstimo ao banco, para me ir aguentando, e aumentei os preços de todos os produtos que tinha à venda. O que nunca pensei é que os clientes desatassem a consumir menos ou até a deixar de me comprar, pelo que nada lucrei com a marosca. Resolvi, então, exigir o pagamento de dívidas atrasadas, uns ovos hoje, um ramo de nabiças amanhã, que esta gente gosta muito de levar fiado e esquecer-se que esteve cá. Ameacei que os punha em tribunal, que lhes ficava com a casa e o carro, que mandava uns capangas torcer-lhes o pescoço. Alguns, tansos, pagaram, mas não chegou, a modos que nunca chega para as minhas precisões, gosto de viajar, de ter bons carros, pequenos luxos de estabelecido. Assim sendo, pedi mais dinheiro ao banco, que me vai emprestando porque tenho lá um sobrinho da minha mulher que é um gajo bestial. Fiquei com os cofres cheios. Mas ainda vou aumentar mais os preços. A ver se, desta vez, é de vez.
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