sórdidos são os passos e as portas


Desde manhã que tenho evitado vir aqui. Desde que ouvi o anúncio dos cortes nas pensões de sobrevivência, achei melhor contar até mil antes de dizer fosse o que fosse. É que, se habitualmente não sou sóbrio nos adjectivos, e substantivos, dirigidos a esta gente que toma conta de nós, salvo seja, tenho a certeza de que, hoje, excederia todos os limites. Por isso me calei. Até agora.

É demais. Tudo isto é demais. E nós deixamos, à espera de que eles se fiquem por aqui, que se dêem por satisfeitos. Tal como os judeus esperaram, antes de serem atirados para as câmaras de gás e os fornos crematórios, que os nazis não fossem longe demais, que lhes poupassem ao menos os filhos, as mulheres, os netos. 

Exagero, eu? Não acho. Acho que estamos, alegremente, a deixar-nos arrastar para o mais infame dos campos de concentração, na nossa própria pátria.

Sórdidos são os passos das botas cardadas. Sórdidas são as portas dos campos da morte. Sórdidos digo eu em dia de contenção. Convém. Convém não perder a razão com as palavras que me vão na alma.

E disse aquele ser sem nome, na conferência de imprensa desta semana, que nunca poria em causa a dignidade humana. Os vermes alimentam-se de carne em decomposição. Isso explica tudo. Isso explica Pedro e Paulo, os apóstolos da ignomínia.

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