relvas, calado, é um ministro abençoado
Por Tiago Mesquita
http://expresso.sapo.pt
Nadando contra a corrente, sou completamente contra a liberdade de expressão do ministro Miguel Relvas. Vou frisar: "do ministro". Enquanto for contra a liberdade de expressão de Miguel Relvas, é sinal de que este continua a ser ministro. Não consigo evitar. Ao ouvi-lo, devo sentir o mesmo que ele sentia quando ouvia alguns programas de rádio, entretanto retirados do ar.Infelizmente, não tenho poderes para retirar Relvas "do ar".
Estaria a borrifar-me se a TVI achasse adequado convidar o cidadão Miguel Relvas para falar sobre o "futuro do jornalismo", por mais patético que pudesse parecer. Mas não é o cidadão Miguel a ser convidado, é o ministro Relvas. Até porque, convenhamos, o cidadão Miguel é tão interessante, e útil, numa conferência sobre o "futuro do jornalismo" como um jarrão da Vista Alegre no centro de uma pista de bowling. O ministro, idem, mas sempre é ministro.
Se é difícil engolir que o ministro Relvas ainda tenha liberdade de expressão, mais difícil se torna ouvir dizer que negar-lhe essa liberdade é um "atentado à democracia". Qualquer tentativa de minimizar ou impedir as declarações públicas do ministro Relvas devia ser considerada um acto de liberdade, democrático e suscitar elogios, nunca repúdio. Para mim, antidemocrático é ser a favor da liberdade de expressão do ministro Relvas. E antidemocrática e lesiva dos mais elementares direitos dos cidadãos é esta governação.
Pouco interessa o que Relvas tem para dizer. Não quero saber se Relvas existe na realidade ou se é apenas mais uma medida de austeridade em forma de holograma. Estou convicto de que, caso existisse um botão no telecomando das televisões portuguesas para calar o ministro Relvas, de cada vez que este fala, seria certamente dos mais premidos. O "ON", O "OFF", o "Menu" e o "SHUT UP RELVAS".
A verdade é que dá imenso jeito ao governo, e a Passos Coelho, ter Miguel Relvas como ministro. Para este executivo é vital que ele fale. Quanto mais ele se tentar exprimir, melhor. Quanto mais for interrompido, melhor ainda. Enquanto estivermos todos a olhar para a mascote da equipa, e para as situações ridículas a que se expõe, ninguém está verdadeiramente atento ao jogo que está a decorrer. E que jogo perigoso. Portugal está em jogo.
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