o futuro pode esperar
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Por Viriato Soromenho-Marques
As catástrofes naturais que se abateram sobre as Filipinas ou a Sardenha parecem funcionar como o coro grego em relação a mais uma interminável e improdutiva reunião dos países signatários da Convenção das Nações Unidas para combater as alterações climáticas. Desta vez é em Varsóvia. A 19.ª reunião das Partes. Domina a lógica suicida da tragédia dos comuns, continuando-se a lançar gases de efeito de estufa para a única atmosfera de que todos dependemos. Como se os benefícios particulares, obtidos à custa de malefícios coletivos, não acabassem por terminar, inevitavelmente, em danos para todos, dada a exiguidade do nosso planeta. Desde que a "crise das dívidas soberanas" colocou a Europa fora dos assuntos sérios do mundo, mais ninguém se dispôs a ocupar o lugar deixado vazio pela antiga liderança da UE em matéria climática. Mas os mercados não fazem melhor do que os governos. Se estes últimos dão 500 mil milhões de dólares anuais em subsídios às energias fósseis (em vez de as penalizarem com taxas desencorajadoras), 89 dos mais importantes bancos mundiais investiram 118 mil milhões de euros na indústria do carvão (o mais poluente dos combustíveis fósseis) entre 2005 e 2012. No mesmo período, apesar de todos esses bancos usarem frases "verdes" e "amigas do ambiente" na sua publicidade, os investimentos em todo o ciclo industrial do carvão (da mineração à combustão) aumentaram 397%! O coro grego dos acidentes naturais, cada vez mais violentos, parece já não comover ninguém, a não ser as vítimas. Os telescópios perscrutam os céus em busca de ameaças vindas do espaço, mas a grande colisão que se prepara é aquela que cresce na indiferença moral e na ausência de compaixão que comandam o mundo.
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