pão e circo em dia de rei defunto
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É oficial: o cinema King vai fechar. Morreu um rei, viva o rei! A Barraca, o Teatro Aberto, a Comuna, a Cornucópia, podem vir a fechar também, como já encerrou a Seiva Trupe. Não faz mal. Ainda temos os cinemas amigos da ditadura dos mercados e do cinema americanado do sangue, das tripas, dos carros que explodem e dos casais que fodem com pudores de virgem casta. Quanto aos teatros, não fazem falta nenhuma. Organizem-se uns concursos de vestido de chita, uns serões para trabalhadores, uns arraiais populares, uns fados e guitarradas e - ah, sim! - uns saraus de beneficência e umas peregrinações a Fátima, é tudo o que faz falta para entreter a malta. Cavaco poderá andar de tesoura em riste a cortar fitas de terra em terra, para inaugurar fontanários, casas do povo e cantinas sociais dedicadas aos pobrezinhos mas honrados. Passos poderá voltar ao modelo de "Conversas em Família", agora a cores, em alta definição e com som Dolby. Portas poderá chefiar a Mocidade Portuguesa. Macedo, a legião. César das Neves, a Emissora Nacional. Relvas, a polícia internacional de defesa do Estado. Esteves, que apesar de ser mulher tem, na guelra, o sangue que falta a muitos, poderá continuar à frente da Assembleia Nacional onde, como ninguém, sabe expulsar, das galerias, os profissionais da desordem, as gentes do reviralho.
O circo ficará instalado.
Só fica a faltar o pão.
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