a tesoura corta, o tesouro cresce

Cortes. Cortes. Cortes. Nas reformas, nos subsídios, nos salários, nos serviços públicos. Cortes e mais cortes. Cortes e mortes. A tesoura não pára mas o tesouro só cresce para alguns. É a dívida. Tudo por causa da dívida. Do Sócrates, do Estado Social, dos velhos que não morrem, dos desempregados que teimam em viver, das classes baixas que vivem à tripa-forra, das cavalarias altas de um povo de perdulários e calaceiros. Cortes cegos. Doem-nos na carteira. Roem-nos o pão. Moem-nos a existência. Mas os tesoureiros, os da tesoura e do tesouro, os que têm na mão a faca do açougeiro, as tenazes do algoz, a pá do coveiro, querem mais. Querem-nos pobres, porque só pobres podemos competir com os ricos, só pobres podemos ter emprego, só pobres podemos existir. Num país feliz, de mão-de-obra barata, leis laborais saudáveis, nenhuns direitos e todos os deveres. Os de pagar ao fisco, de trabalhar até ao estertor final, de procriar, procriar muito para rejuvenescer Portugal e encher o país de mais escravos submissos, carne económica, negócios da China.

Leiam-se as primeiras páginas dos alguns jornais de hoje:
* Hospitais recusam doentes com sida e cancro (se apanharam a doença foi por causa dos maus hábitos).
* A extrema-direita avança por toda a Europa (e o neofascismo já abocanhou o poder).
* Os grandes clubes, os que pagam fortunas por jogadores, devem milhões ao fisco (mas não há quem os confisque).

Isto num só dia. Amanhã outros cabeçalhos surgirão, outros dramas, outros escândalos, outros crimes. A tesoura corta, retalha, fura, esburaca, mata.

Aqui chegámos.

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