vamos fazer a ponte!

Por Luís Rainha

Foi uma grande ideia, reivindicar a Ponte 25 de Abril como palco para a próxima grande manifestação de repúdio pelo assalto que nos destrói. De uma só pedrada, assusta-se o Coelho, lança-se uma inovação no difícil mercado dos protestos e atrai-se o turista amante dos panoramas exóticos para uma passeata irrepetível.

O governo, sabendo que a Constituição torna supérfluo qualquer pedido de autorização, tenta barricar os caminhos para o Tejo com uma lei de 74. Tal decreto, aliás, poderia até impedir todas as manifestações antitroika, pois reza que "serão interditas as reuniões que pelo seu objecto ofendam a honra e a consideração devidas aos órgãos de soberania". Por mim, irei lá com vontade de os ofender e certo de que nada lhes devo.

Talvez receiem uma revoada de suicidas, como na irmã mais velha de S. Francisco, ou a atracção cénica da iniciativa - o desespero do ministro Macedo é quase cómico; ainda está para surgir um argumento que não seja aplicável às corridas que já desfilaram sobre o Tejo.

O braço-de-ferro promete acabar mal. Com a falta de jeito habitual, o poder colocou-se numa situação sem saída. Que fazer se acorrerem mesmo centenas de milhares de cidadãos à ponte da discórdia? Atiçar-lhes a polícia de choque, podendo originar incidentes como o que ainda há dias causou uma centena de vítimas numa ponte na Índia?

Ou o governo recua ou arrisca atear um confronto que por fim desvelará o verdadeiro rosto autoritário da besta. Do lado dos manifestantes, a vitória é certa.

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