o preço
Por Fernanda Mestrinho
Dois irmãos encontraram-se ao fim de 16 anos, num sótão, para venderem o que restou da crise financeira de 1929. O pai ali morreu, abrigado, agarrado aos últimos dólares.
Um filho ficou com ele, o outro partiu. A peça "O Preço", de Arthur Miller, no Teatro Aberto é uma reflexão profunda dos custos humanos da implosão dos mercados. O autor pede expressamente que na encenação o público não seja induzido a simpatizar com qualquer das personagens.
"A situação do mundo actual", diz, "precisa dos dois irmãos e daquilo que eles representam no plano moral e psicológico. O conflito entre ambos revela o âmago do dilema social." Seremos nós a decidir?
Repetimos esses tempos sombrios. A revolta do professor desempregado que faz assaltos, os reformados que ajudam filhos e netos, a pobreza envergonhada e de mão estendida à caridade, ou o salve-se quem puder. Em qualquer caso, o preço será sempre elevado. Ficarão feridas por sarar, sonhos por realizar, vidas desfeitas.
As pessoas são testadas nos valores e comportamentos como nunca julgaram ser possível. E aqui entra a vulnerabilidade ou a firmeza de uns e de outros.
Ao fim de 16 anos voltaram a não se entender. Os agiotas consideram as crises uma oportunidade de negócio. Na peça, o antiquário foi o único a dançar no fim.
Aqui está uma boa sugestão para os nossos governantes no dia de reflexão. Pensar nos estragos humanos das suas decisões e em como o seu discurso optimista soa a falso.
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